"Sou uma mulher madura, que as vezes brinca de balanço.
Sou uma criança insegura, que as vezes anda de salto alto."
(Martha Medeiros)

Este Blog tem por objetivo catalogar minha caminhada nesta jornada diária na busca incessante pelo auto-conhecimento e compreensão das coisas com a ampliação de consciência. Esta tarefa faz parte do meu exercício de auto-disciplina e comprometimento comigo mesma.


Sigo meu caminho, um dia de cada vez, colocando cada coisa em seu lugar, re-organizando aos poucos toda a minha existência. Mas... de que forma??? Condição sine-qua-non ou regra de ouro: Nunca fazer ao outro aquilo que não gostaria que o outro me fizesse. Deixar a ansiedade e o orgulho de lado, controlar o ego e exercitar o perdão.

Simples, mágico e divertido... com certeza!!!

Por fim, decidi fazer um diário emocional onde irei registrar minhas impressões sempre que algo relevante chacoalhar minha estrutura sinestésica feminina, cujo título não podeia ser outro, senão O DIVÃ DE VALERIA KENCHICOSKI.

Valeria Kenchicoski - março/2010.

domingo, 24 de abril de 2011

24/04/2011

DOMINGO DE PÁSCOA.

A Páscoa é a principal festa dos Judeus. Para nós, cristãos, o Domingo de Páscoa é o dia mais importante do ano, onde celebramos a ressurreição do Mestre Jesus, crucificado em prol da liberdade dos homens. As famílias se reúnem, trocam ovos de chocolate e comem tudo aquilo que não puderam comer durante a quaresma. Acaba-se o tempo do silêncio e o jejum de carne vermelha.

Particularmente, desde muito antes de eu nascer, em minha família todos os domingos eram celebrados como uma data cristã, um dia de confraternização e descanso. Benefícios de se ter uma família numerosa!!! O ritual era simples: missa dominical pela manhã e almoço c/ todos reunidos na casa de alguém. Geralmente na minha casa, por conta da minha avó, uma festeira de marca maior. Vinham os tios, primos, visinhos... muita comida, muita música, muita alegria.

Hoje é o meu primeiro Domingo de Páscoa em reclusão. Sim, reclusão por própria opção. Ano difícil, dias difíceis. Optei pelo silêncio, reflexão e prece. Este é o ano que marcará para sempre a decisão mais difícil e dolorida de toda a minha vida: o fim do meu casamento.

Benjamin Disraeli em 1870 escreveu numa carta a Louise, filha da Rainha Vitória, cumprimentando-a pelo noivado: “Não há risco maior que o matrimônio. Mas nada é mais feliz do que um casamento feliz”.

Definitivamente, meu casamento foi infinito enquanto durou. Se deu certo? Sim, deu super certo!!! O fato de ter terminado não é sinônimo de desamor e fracasso. Havia amor e pelo menos da minha parte ainda há. Um amor diferente, maduro, fraterno e eterno. Mas ainda assim, não fomos feitos um para o outro. Meu casamento foi um grande equívoco. Sou eternamente grata por tudo o que vivi ao longo de quase doze anos de vida conjugal, embora tenha sido resgatada de mim mesma e passado todos estes anos num eterno hiato. Há tempos percebi que nada em minha vida era motivo suficiente para manter meu casamento. Nem a maternidade. A verdade é que carrego comigo uma culpa eterna por ter me casado por todos os motivos errados, para então, doze anos depois, acabar com tudo.

No começo eu sempre achei que o simples fato de termos permanecido juntos por doze anos em um relacionamento que, apesar da falta de brilho fora civilizado e cortês, já era alguma coisa. Mantive esta união desestimulante por muito tempo, ciente deste fato, apenas por causa do meu filho. Sei que a recíproca é muito verdadeira, porém, se dependesse “dele”, passaríamos as próximas décadas da mesma forma, até que a morte nos separasse. Esta certeza me apavorou. Me soou como uma sentença de morte. Por fim, tive um estalo e decidi que era chegada a hora de colocar um fim em tudo isso. Comecei a me sentir sufocada (daí a origem psicossomática das constantes crises de bronquite), como se estivesse a morrer pouco a pouco e desperdiçando a vida nesse interim. Minhas intuições e sonhos me dizem que viver é muito mais do que tudo isso.

Até hoje nunca soube como encontrei forças para sentar-me perto do meu marido e perguntar-lhe o que ele pensava a respeito de nossa separação. Só me veio à cabeça lhe dizer a verdade: “Eu amo você, mas estamos com os pés e as mãos atadas. Parecemos dois irmãos e não um casal. Não quero mais viver nesta guerra de nervos, vamos nos odiar, nos trair, perder o respeito e fazer nosso filho sofrer. É isso o que você quer? Não seria melhor sermos honestos, em vez de nos iludirmos?”

Desde este dia já se passaram mais de seis meses – motivo que explica meu silêncio durante tanto tempo neste divã – simplesmente sequei. As palavras me abandonaram. Um luto necessário. Durante este período não atendi mais a nenhum telefonema, desapareci do contato social e familiar, mantendo apenas o contato profissional – por obrigação e instinto de sobrevivência.

Muitos questionamentos vieram à tona e nada voltou a ser como antes. Nos tornamos duas pessoas distantes, pouco a pouco, porém ainda dividindo um mesmo teto. Finalmente concluímos que não era apenas mais uma fase, vivemos num constante “meio” casamento.

Por esta razão, nunca me familiarizei de verdade comigo mesma. Assim, quando um tsunami enorme chamado depressão finalmente me atingiu, por volta dos meus 30 anos de idade - no ano de 2005, não consegui entender e nem articular o que estava acontecendo comigo. O tiro de misericórdia se deu com a morte da minha mãe – no ano de 2008. O meu corpo desmoronou primeiro, depois o casamento e durante um intervalo terrível e assustador, a minha própria mente.

Um comentário:

  1. Nossa Valéria, não sabia que vc tinha um blog. Bom, um blog quase todo mundo um dia já teve, tem, ou tentou fazer. Lamento por essas dificuldades de sua vida, mas a admiro não só por ter assumido seu problema, como ter encarado e dividido com todos nós. Fiquei impressionada com a maneira em que expõe seus pensamentos e observei que você escreve muito bem. Já pensou em escrever um livro? Acho que teria uma excelente leitura.
    Tudo de bom pra você. Beijo. Liane

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