"Sou uma mulher madura, que as vezes brinca de balanço.
Sou uma criança insegura, que as vezes anda de salto alto."
(Martha Medeiros)

Este Blog tem por objetivo catalogar minha caminhada nesta jornada diária na busca incessante pelo auto-conhecimento e compreensão das coisas com a ampliação de consciência. Esta tarefa faz parte do meu exercício de auto-disciplina e comprometimento comigo mesma.


Sigo meu caminho, um dia de cada vez, colocando cada coisa em seu lugar, re-organizando aos poucos toda a minha existência. Mas... de que forma??? Condição sine-qua-non ou regra de ouro: Nunca fazer ao outro aquilo que não gostaria que o outro me fizesse. Deixar a ansiedade e o orgulho de lado, controlar o ego e exercitar o perdão.

Simples, mágico e divertido... com certeza!!!

Por fim, decidi fazer um diário emocional onde irei registrar minhas impressões sempre que algo relevante chacoalhar minha estrutura sinestésica feminina, cujo título não podeia ser outro, senão O DIVÃ DE VALERIA KENCHICOSKI.

Valeria Kenchicoski - março/2010.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

28/12/2012

KALOS KAI AGATHOS
 
Hoje tem dúvida, hoje tem certeza. Hoje tem confusão, hoje tem organização.
 
Vida: isso que acontece dentro de mim e de você, aqui, agora, a cada momento, em cada atitude, todos os dias, nos detalhes.
 
Eu vivo sendo atravessada por afetos, sou uma mulher racional e emocionalmente desesperada. Um desequilíbrio constante em busca de algo mais, em busca de mim mesma, enfim. Não quero simplesmente passar pela vida de forma anonimamente insonsa. Quero viver a vida, em sua plenitude.
 
Sou mestra em tentar manter a razão. Isso mesmo, tentar. Porém, conseguir manter a vida sobre os trilhos é uma outra história. E por falar em trilhos, minha ansiedade atropela a tudo e a todos, um verdadeiro desastre. Sou do tipo que assenta os trilhos nos alpes, antes mesmo que haja trem.
 
Em determinadas situações sou radical demais e até me deixo dominar pelo egoísmo, embora tenha consciência plena de que as outras pessoas têm sentimentos, assim como eu e que suas idéias podem ser tão valiosas quanto as minhas.
 
Estou aprendendo a amar as diferenças e respeitar mais a opinião alheia. Desta forma, procuro me divertir com as situações que não podem ser mudadas.
 
2012, este ano que se finda, foi para mim um intenso e integral aprendizado, em todos os aspectos da natureza humana. Coisa boa, quanta gratidão e amor no coração. 2013 vem aí, um ano novinho, com 365 possibilidades de ser feliz. Não pretendo adiar problemas, pendências e soluções. Não mais.
 
É chegada a hora de agir, encarar e resolver. Por que deixar para amanhã o que pode ser feito hoje? É chegada a hora de cada um fazer a sua parte e confiar. Quem e o que estiver em sintonia, virá pra perto, tenho certeza.
 
Espero que 2013 seja um ano também de solução e união... Então, que tal separar o joio do trigo, cortar o mal pela raiz, eliminar os excessos e fazer o que precisa mesmo ser feito?
 
Eu não faço e não quero promessas. Promessas criam expectativas e, expectativas borram maquiagens e comprimem estômagos. Nem sei se tenho certeza do que estou prestes a escrever aqui, mas precisa ficar registrado, de uma forma ou de outra, para que todas as vezes que eu voltar a ler estas linhas, possa reviver esta sublime sensação.
 
É a primeira vez que me apaixono e sinto paz ao mesmo tempo. Ou encontrei o homem certo ou estou me tornando a mulher certa. Aprendi que não é o amor que sustenta um relacionamento. É o modo de se relacionar que sustenta o amor. A busca de si mesmo é uma jornada individual, mas não solitária. O outro é o espelho onde você vê seu próprio reflexo.
 
De agora em diante, desejo os prazeres do mundo e a transcendência divina – simultaneamente. Desejo de forma avassaladora as glórias duais da vida humana. Desejo aquilo que os gregos chamam de “kalos kai agathos” – o perfeito equilíbrio do bom e do belo.
 
E que venha 2013... estou pronta!!!
 
NAMASTÊ.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

12/12/2012


RADIOTERAPIA – SESSÃO 30/30: ACABOU.
“Uma mulher é como um saquinho de chá, você nunca saberá o quão forte ele é até que esteja na água quente.” (Eleanor Roosevelt).
Hoje é um daqueles dias bons para refletir sobre a vida, para avaliar o quanto as coisas estão verdadeiramente como desejamos. Ainda dá tempo de resolver, de mudar o que for preciso. É importante virar mesmo a página, encerrar aqueles ciclos que já deviam ter ficado pra trás. É importante abrir espaço para que o novo possa chegar.
12/12/12. Talvez seja o caso de agir realmente como se o mundo fosse acabar: resolver as pendências e abrir o coração. Não empurrar problemas com a barriga. Falar o quanto alguém é especial. Curtir o que é importante. Descartar o que não serve mais. Seguir em frente. Ser generoso. Resolver a vida para viver cada vez melhor.
Mais uma etapa se cumpriu, graças à Deus. Como todos sabem, criei um perfil no Facebook com a finalidade de divulgar meu tratamento contra um câncer de mama na íntegra, sem sensacionalismo, porém com a visão do paciente em cada etapa de um tratamento oncológico.
A partir de então, este blog também passou a ser uma ferramenta de divulgação. Procurei conduzir tudo com leveza e alegria, transmitindo esperança, força e principalmente o acalanto e a certeza de que câncer não é mais uma sentença de morte, mesmo sem saber como.
Neste período pessoas se foram, abrindo espaço para novas pessoas que chegaram. Com resiliência eu sorri, chorei, sofri, brinquei, aprendi, amei, me apaixonei e, consequentemente, me reconstrui.
A radioterapia é um processo árduo e que não pode ser mensurado e nem tampouco comparado ao processo de quimioterapia, por exemplo. Na verdade, os tratamentos oncológicos são uma “caixa de pandora”, cada um com suas infinitas complexidades. Cada caso é um caso, cada diagnóstico é um diagnóstico, cada DNA é um DNA. Portanto, cada tratamento é um tratamento, bem como cada resultado é um resultado.
As oito sessões de quimioterapia foram longas, uma a cada 21 dias. Os efeitos colaterais, todos já relatados aqui, ipsis litters. Ainda assim, havia um período de descanso e regeneração.
Já na radioterapia não houve trégua. Foram 30 sessões, uma por dia, com descanso apenas aos finais de semana. O horário da minha aplicação era 6:30h (praticamente madrugada). Fizesse sol, chuva, tsunami, terremoto, enfim, eu estava lá.
Paralelamente, toda semana havia consulta de avaliação com a médica radioterapeuta – Dra. Osanna Esther Barbosa – um amor de pessoa.
“A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da área irradiada.

As radiações ionizantes são eletromagnéticas ou corpusculares e carregam energia. Ao interagirem com os tecidos, dão origem a elétrons rápidos que ionizam o meio e criam efeitos químicos como a hidrólise da água e a ruptura das cadeias de ADN. A morte celular pode ocorrer então por variados mecanismos, desde a inativação de sistemas vitais para a célula até sua incapacidade de reprodução.

A resposta dos tecidos às radiações depende de diversos fatores, tais como a sensibilidade do tumor à radiação, sua localização e oxigenação, assim como a qualidade e a quantidade da radiação e o tempo total em que ela é administrada.

Para que o efeito biológico atinja maior número de células neoplásicas e a tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação a ser administrada é habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se usa a terapia externa.”(Fonte: INCA – Instituto Nacional do Câncer).
Dos efeitos colaterais:
1) Sono, muito sono. Em resumo é o cérebro “desligando” o corpo, obrigando-o ao repouso e, consequentemente, ao armazenamento das energias vitais p/ que a radiação possa cumprir sua missão.
 
2) Imuno-depressão. Eis me aqui, com a pele ressecada e as unhas enfraquecidas e quebradiças, mais uma vez.
 
3) Queimadura da pele, popularmente falando. A região tratada se torna quente e avermelhada. Sintoma similar ao de um bronzeamento excessivo, diário, sob o sol do meio dia e sem protetor solar, potencializado por 30 dias consecutivos.
Em Santos faz muito calor nesta primavera, média de 35 graus. Eu com ansiedade, irritabilidade, impaciência, tudo junto e misturado.
Na verdade, fiquei com a pele muito queimada do lado esquerdo do corpo (costas, pescoço, colo, seio e axila esquerda). Nenhuma novidade. Efeito colateral da radioterapia. Já sabia disso, mas não pensei que fosse tão difícil e que mexesse tanto comigo física e emocionalmente.
Nesta mesma data, no ano passado, eu estava careca e totalmente debilitada por conta da quimioterapia. Hoje estou com a pele em carne viva. Cada vez que tomo banho, a água escorre pelo meu seio esquerdo e retira mais um pouquinho de pele. O clima prejudica bastante. Em casa fico sem roupa e sair na rua é um verdadeiro tormento.

A vida segue. Tudo passa e isso também vai passar. Apenas estou cansada, muito cansada. Estou exausta. Exausta de ser forte, de fazer de conta que está tudo bem, enfim. Só agora, ao escrever estas palavras é que estou me permitindo chorar. Choro bom, de desabafo, mais uma etapa vencida.
Sei que o pior já passou, que sou privilegiada por ter acesso à um tratamento digno e de última geração. Mas, há momentos em que é bem difícil encarar o espelho. Será que sou fútil? Preocupar-me com estética a esta altura do campeonato? Sou mulher, apenas mulher. Portanto, vaidosa, claro!!!
Enfim e apesar de tudo, o sentimento agora não poderia ser outro, senão o de GRATIDÃO, AMOR, RESIGNAÇÃO e ALEGRIA.
Definitivamente passei a reconhecer a transitoriedade das ondas, a relatividade do tempo e a nulidade da vida que passa sem marcar estações... apenas passa.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

05/12/2012


O ESTRANHO
- Podemos? - perguntou ele.
- Será que podemos mesmo?
- Ainda não sabemos, talvez depois de nos conhecermos.
- Nos conhecermos. Queremos?
- Querer é Poder. Eu posso e você?
Uma fração de segundo se transforma em eternidade, a troca de olhar entre eles é intensa. Como um leitor de código de barras, os cinco sentidos entram em sintonia fina, ativados pelo feromônio latente que acelera o pulsar. As pupilas se dilatam e a síndrome das pernas inquietas se apresenta.
Impetuosa e cosmopolita, Cecília decide continuar. Se lança e toma a iniciativa sem pudores, sem se preocupar com o amanhã, tampouco sem querer saber se haverá amanhã. Rouba-lhe um beijo. Abre caminho para o depois, trêmula.
Ele era perturbador. Um verdadeiro estranho, no sentido literal da palavra. Surreal, irracional, sem explicação, sem controle. Sua inteligência é afrodisíaca e visceral. Cecília se entrega. Atravessar fronteiras e exercitar sua liberdade sempre foi o seu maior desejo, desde a mais tenra infância.
Cecília pode enfim ler nos olhos, nos lábios e nas mãos daquele estranho o real significado da palavra “intimidade” e, embora não tenha certeza de nada, segue seu caminho adaptando-se aos contos de fadas daqui e dali, brincando de ser perfeita, durante o tempo em que lhe interessar.

domingo, 2 de dezembro de 2012

27/11/2012

ÂNSIA
 
Primavera, chuva incessante e fina
da janela ouço um pássaro a cantar
e neste instante travestida de menina
planejo sonhos que ainda estão por realizar 

Sentada com os pés a balançar
Fecho os olhos e me entrego a divagar
Estou presa no aqui e agora
Onde mais queria estar? 

Emoção estrondosa faz o pulso acelerar
Eis um nó nas cordas do soprano
Um universo inteiro a conquistar
E eu aqui feito um poço artesiano 

Um o susto, um vácuo a me sugar
O telefone toca e me obriga a acordar
Alô, com quem deseja falar?
Um engano, só me resta serenar.