"Sou uma mulher madura, que as vezes brinca de balanço.
Sou uma criança insegura, que as vezes anda de salto alto."
(Martha Medeiros)

Este Blog tem por objetivo catalogar minha caminhada nesta jornada diária na busca incessante pelo auto-conhecimento e compreensão das coisas com a ampliação de consciência. Esta tarefa faz parte do meu exercício de auto-disciplina e comprometimento comigo mesma.


Sigo meu caminho, um dia de cada vez, colocando cada coisa em seu lugar, re-organizando aos poucos toda a minha existência. Mas... de que forma??? Condição sine-qua-non ou regra de ouro: Nunca fazer ao outro aquilo que não gostaria que o outro me fizesse. Deixar a ansiedade e o orgulho de lado, controlar o ego e exercitar o perdão.

Simples, mágico e divertido... com certeza!!!

Por fim, decidi fazer um diário emocional onde irei registrar minhas impressões sempre que algo relevante chacoalhar minha estrutura sinestésica feminina, cujo título não podeia ser outro, senão O DIVÃ DE VALERIA KENCHICOSKI.

Valeria Kenchicoski - março/2010.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

28/12/2012

KALOS KAI AGATHOS
 
Hoje tem dúvida, hoje tem certeza. Hoje tem confusão, hoje tem organização.
 
Vida: isso que acontece dentro de mim e de você, aqui, agora, a cada momento, em cada atitude, todos os dias, nos detalhes.
 
Eu vivo sendo atravessada por afetos, sou uma mulher racional e emocionalmente desesperada. Um desequilíbrio constante em busca de algo mais, em busca de mim mesma, enfim. Não quero simplesmente passar pela vida de forma anonimamente insonsa. Quero viver a vida, em sua plenitude.
 
Sou mestra em tentar manter a razão. Isso mesmo, tentar. Porém, conseguir manter a vida sobre os trilhos é uma outra história. E por falar em trilhos, minha ansiedade atropela a tudo e a todos, um verdadeiro desastre. Sou do tipo que assenta os trilhos nos alpes, antes mesmo que haja trem.
 
Em determinadas situações sou radical demais e até me deixo dominar pelo egoísmo, embora tenha consciência plena de que as outras pessoas têm sentimentos, assim como eu e que suas idéias podem ser tão valiosas quanto as minhas.
 
Estou aprendendo a amar as diferenças e respeitar mais a opinião alheia. Desta forma, procuro me divertir com as situações que não podem ser mudadas.
 
2012, este ano que se finda, foi para mim um intenso e integral aprendizado, em todos os aspectos da natureza humana. Coisa boa, quanta gratidão e amor no coração. 2013 vem aí, um ano novinho, com 365 possibilidades de ser feliz. Não pretendo adiar problemas, pendências e soluções. Não mais.
 
É chegada a hora de agir, encarar e resolver. Por que deixar para amanhã o que pode ser feito hoje? É chegada a hora de cada um fazer a sua parte e confiar. Quem e o que estiver em sintonia, virá pra perto, tenho certeza.
 
Espero que 2013 seja um ano também de solução e união... Então, que tal separar o joio do trigo, cortar o mal pela raiz, eliminar os excessos e fazer o que precisa mesmo ser feito?
 
Eu não faço e não quero promessas. Promessas criam expectativas e, expectativas borram maquiagens e comprimem estômagos. Nem sei se tenho certeza do que estou prestes a escrever aqui, mas precisa ficar registrado, de uma forma ou de outra, para que todas as vezes que eu voltar a ler estas linhas, possa reviver esta sublime sensação.
 
É a primeira vez que me apaixono e sinto paz ao mesmo tempo. Ou encontrei o homem certo ou estou me tornando a mulher certa. Aprendi que não é o amor que sustenta um relacionamento. É o modo de se relacionar que sustenta o amor. A busca de si mesmo é uma jornada individual, mas não solitária. O outro é o espelho onde você vê seu próprio reflexo.
 
De agora em diante, desejo os prazeres do mundo e a transcendência divina – simultaneamente. Desejo de forma avassaladora as glórias duais da vida humana. Desejo aquilo que os gregos chamam de “kalos kai agathos” – o perfeito equilíbrio do bom e do belo.
 
E que venha 2013... estou pronta!!!
 
NAMASTÊ.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

12/12/2012


RADIOTERAPIA – SESSÃO 30/30: ACABOU.
“Uma mulher é como um saquinho de chá, você nunca saberá o quão forte ele é até que esteja na água quente.” (Eleanor Roosevelt).
Hoje é um daqueles dias bons para refletir sobre a vida, para avaliar o quanto as coisas estão verdadeiramente como desejamos. Ainda dá tempo de resolver, de mudar o que for preciso. É importante virar mesmo a página, encerrar aqueles ciclos que já deviam ter ficado pra trás. É importante abrir espaço para que o novo possa chegar.
12/12/12. Talvez seja o caso de agir realmente como se o mundo fosse acabar: resolver as pendências e abrir o coração. Não empurrar problemas com a barriga. Falar o quanto alguém é especial. Curtir o que é importante. Descartar o que não serve mais. Seguir em frente. Ser generoso. Resolver a vida para viver cada vez melhor.
Mais uma etapa se cumpriu, graças à Deus. Como todos sabem, criei um perfil no Facebook com a finalidade de divulgar meu tratamento contra um câncer de mama na íntegra, sem sensacionalismo, porém com a visão do paciente em cada etapa de um tratamento oncológico.
A partir de então, este blog também passou a ser uma ferramenta de divulgação. Procurei conduzir tudo com leveza e alegria, transmitindo esperança, força e principalmente o acalanto e a certeza de que câncer não é mais uma sentença de morte, mesmo sem saber como.
Neste período pessoas se foram, abrindo espaço para novas pessoas que chegaram. Com resiliência eu sorri, chorei, sofri, brinquei, aprendi, amei, me apaixonei e, consequentemente, me reconstrui.
A radioterapia é um processo árduo e que não pode ser mensurado e nem tampouco comparado ao processo de quimioterapia, por exemplo. Na verdade, os tratamentos oncológicos são uma “caixa de pandora”, cada um com suas infinitas complexidades. Cada caso é um caso, cada diagnóstico é um diagnóstico, cada DNA é um DNA. Portanto, cada tratamento é um tratamento, bem como cada resultado é um resultado.
As oito sessões de quimioterapia foram longas, uma a cada 21 dias. Os efeitos colaterais, todos já relatados aqui, ipsis litters. Ainda assim, havia um período de descanso e regeneração.
Já na radioterapia não houve trégua. Foram 30 sessões, uma por dia, com descanso apenas aos finais de semana. O horário da minha aplicação era 6:30h (praticamente madrugada). Fizesse sol, chuva, tsunami, terremoto, enfim, eu estava lá.
Paralelamente, toda semana havia consulta de avaliação com a médica radioterapeuta – Dra. Osanna Esther Barbosa – um amor de pessoa.
“A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da área irradiada.

As radiações ionizantes são eletromagnéticas ou corpusculares e carregam energia. Ao interagirem com os tecidos, dão origem a elétrons rápidos que ionizam o meio e criam efeitos químicos como a hidrólise da água e a ruptura das cadeias de ADN. A morte celular pode ocorrer então por variados mecanismos, desde a inativação de sistemas vitais para a célula até sua incapacidade de reprodução.

A resposta dos tecidos às radiações depende de diversos fatores, tais como a sensibilidade do tumor à radiação, sua localização e oxigenação, assim como a qualidade e a quantidade da radiação e o tempo total em que ela é administrada.

Para que o efeito biológico atinja maior número de células neoplásicas e a tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação a ser administrada é habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se usa a terapia externa.”(Fonte: INCA – Instituto Nacional do Câncer).
Dos efeitos colaterais:
1) Sono, muito sono. Em resumo é o cérebro “desligando” o corpo, obrigando-o ao repouso e, consequentemente, ao armazenamento das energias vitais p/ que a radiação possa cumprir sua missão.
 
2) Imuno-depressão. Eis me aqui, com a pele ressecada e as unhas enfraquecidas e quebradiças, mais uma vez.
 
3) Queimadura da pele, popularmente falando. A região tratada se torna quente e avermelhada. Sintoma similar ao de um bronzeamento excessivo, diário, sob o sol do meio dia e sem protetor solar, potencializado por 30 dias consecutivos.
Em Santos faz muito calor nesta primavera, média de 35 graus. Eu com ansiedade, irritabilidade, impaciência, tudo junto e misturado.
Na verdade, fiquei com a pele muito queimada do lado esquerdo do corpo (costas, pescoço, colo, seio e axila esquerda). Nenhuma novidade. Efeito colateral da radioterapia. Já sabia disso, mas não pensei que fosse tão difícil e que mexesse tanto comigo física e emocionalmente.
Nesta mesma data, no ano passado, eu estava careca e totalmente debilitada por conta da quimioterapia. Hoje estou com a pele em carne viva. Cada vez que tomo banho, a água escorre pelo meu seio esquerdo e retira mais um pouquinho de pele. O clima prejudica bastante. Em casa fico sem roupa e sair na rua é um verdadeiro tormento.

A vida segue. Tudo passa e isso também vai passar. Apenas estou cansada, muito cansada. Estou exausta. Exausta de ser forte, de fazer de conta que está tudo bem, enfim. Só agora, ao escrever estas palavras é que estou me permitindo chorar. Choro bom, de desabafo, mais uma etapa vencida.
Sei que o pior já passou, que sou privilegiada por ter acesso à um tratamento digno e de última geração. Mas, há momentos em que é bem difícil encarar o espelho. Será que sou fútil? Preocupar-me com estética a esta altura do campeonato? Sou mulher, apenas mulher. Portanto, vaidosa, claro!!!
Enfim e apesar de tudo, o sentimento agora não poderia ser outro, senão o de GRATIDÃO, AMOR, RESIGNAÇÃO e ALEGRIA.
Definitivamente passei a reconhecer a transitoriedade das ondas, a relatividade do tempo e a nulidade da vida que passa sem marcar estações... apenas passa.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

05/12/2012


O ESTRANHO
- Podemos? - perguntou ele.
- Será que podemos mesmo?
- Ainda não sabemos, talvez depois de nos conhecermos.
- Nos conhecermos. Queremos?
- Querer é Poder. Eu posso e você?
Uma fração de segundo se transforma em eternidade, a troca de olhar entre eles é intensa. Como um leitor de código de barras, os cinco sentidos entram em sintonia fina, ativados pelo feromônio latente que acelera o pulsar. As pupilas se dilatam e a síndrome das pernas inquietas se apresenta.
Impetuosa e cosmopolita, Cecília decide continuar. Se lança e toma a iniciativa sem pudores, sem se preocupar com o amanhã, tampouco sem querer saber se haverá amanhã. Rouba-lhe um beijo. Abre caminho para o depois, trêmula.
Ele era perturbador. Um verdadeiro estranho, no sentido literal da palavra. Surreal, irracional, sem explicação, sem controle. Sua inteligência é afrodisíaca e visceral. Cecília se entrega. Atravessar fronteiras e exercitar sua liberdade sempre foi o seu maior desejo, desde a mais tenra infância.
Cecília pode enfim ler nos olhos, nos lábios e nas mãos daquele estranho o real significado da palavra “intimidade” e, embora não tenha certeza de nada, segue seu caminho adaptando-se aos contos de fadas daqui e dali, brincando de ser perfeita, durante o tempo em que lhe interessar.

domingo, 2 de dezembro de 2012

27/11/2012

ÂNSIA
 
Primavera, chuva incessante e fina
da janela ouço um pássaro a cantar
e neste instante travestida de menina
planejo sonhos que ainda estão por realizar 

Sentada com os pés a balançar
Fecho os olhos e me entrego a divagar
Estou presa no aqui e agora
Onde mais queria estar? 

Emoção estrondosa faz o pulso acelerar
Eis um nó nas cordas do soprano
Um universo inteiro a conquistar
E eu aqui feito um poço artesiano 

Um o susto, um vácuo a me sugar
O telefone toca e me obriga a acordar
Alô, com quem deseja falar?
Um engano, só me resta serenar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

26/11/2012

Redigir uma carta de amor. É esta a missão que me foi dada na última aula do curso de literatura. Nunca pensei que fosse tão difícil...


CONFRARIA DOS CACHALOTES
Texto 3: Letter of Love 

Costumava me deitar no chão ainda morno, olhar para o céu e ver as estrelas no verão, quando menina. Mente e coração atravessava a Via Láctea, à espera de uma estrela cadente. Duvidava que as estrelas fossem fogo, que a terra se movia, que verdades pudessem ser mentiras, mas jamais duvidei do meu amor.

Hoje, mais de três décadas, sinto-me a mesma menina, num domingo que antecede o primeiro dia de aula. Continuo a sua espera e, embora saiba que nada dure para sempre, consciente ou inconscientemente minha busca será eterna, pois jamais duvidei do meu amor.

O crepúsculo chega e eu não quero ir. Já passei por angústias e enganos grotescos, confesso. A ânsia de encontrá-lo, me afastou a cada dia. Porém, jamais duvidei do meu amor.

Duas palavras: “e” e “se” tão inofensivas quanto qualquer outra. Coloque-as juntas, lado a lado, e elas terão o poder de assombrar. “E se?” Não sei como minha história acabará. Só sei que jamais duvidei do meu amor.

Para viver um amor verdadeiro, nunca é tarde demais. Se os romances de outrora não foram reais, por que não o seria o de agora? Falta-me coragem para seguir meu coração. Afinal, não sei como é viver um amor como o de Romeu e Julieta, pelo qual cruzar oceanos ou ainda como no filme Somewhere in Time. Gosto de pensar que um dia eu teria a coragem de agarrá-lo. Afinal, jamais duvidei do meu amor.

Assim, quando encontrar, que seja numa tarde de outono, inebriada com o ballet das folhas secas até a primavera. Que haja entre nós sabedoria, equilíbrio e resignação para aceitar este merecimento.

Ainda não sei seu nome, seu rosto, sua voz, mas sei que estamos muito próximos. A maturidade é uma lapidação constante. Hoje somos pedras brutas, perdidos um do outro.

Então, maduros, talvez se apresente numa trombada na rua ou na praia, entre amigos, numa disputa pelo último exemplar do livro Aprendendo a Viver - Sêneca, ou pelo mundo virtual.

Dizem que o amor não passa de um encantamento da gente pela gente mesmo. Assim sendo, ao me encantar, por favor, reconheça-me.
 
“Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas”. (Fernando Pessoa).


Valeria Kenchicoski.
26/11/2012.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

21/11/2012

PARAFRASEANDO INEXORAVELMENTE A RESPEITO DE ANJOS E DEMÔNIOS

Minha integralidade é composta por um combate dual, eterno e visceral, combate este protagonizado entre anjos e demônios. Há dias em que meu lado angélico prevalece e, em outros, o lado demoníaco demonstra sua força. Difícil mesmo são os dias em que ambos duelam entre si, em pé de igualdade, assim como agora. Na verdade, acho que sou uma janela para os mistérios da psicologia humana.

Razão ou emoção? Certo ou errado? Dia ou noite? Pouso ou decolagem? Eros ou Ágape?

Tenho uma confissão a fazer: descobri que sou um demônio em essência, cujo guia e mentor é o meu próprio Anjo da Guarda. Ah, e como ele me guarda!!! Suas asas já estão todas chamuscadas de tanto que ele teima em me “livrar” do fogo, afinal, sou movida a desafios!!!

Caro Vinícius, permita-me por um instante apropriar-me de sua obra magnânima, Soneto da Fidelidade, no intuito de expressar humildemente o fervor que me acomete neste exato momento. Entendo que este soneto se refere à vida como um todo, ao amor incondicional por simplesmente estar vivo e compor a biodiversidade deste planeta. Perdoe-me Vinícius, mas esta obra prima literária vai muito mais além de uma simples declaração de amor, desejo e encantamento à mulher amada.

“De tudo, meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure”.

Pra sempre não é todo dia e nunca... o que significa isso mesmo??? A vida não se resume a quantas vezes respiramos ao longo de nossa existência, mas sim a quantas vezes perdemos o fôlego durante esta jornada. Há também a partícula “se”, um verdadeiro atestado de óbito em vida!!!

“se” eu pudesse roubar as gotas de luar que vi brilhar nos olhos teus; “se” eu tivesse dito sim ao invés do não; “se” eu tivesse dito não ao invés do sim; enfim.

Meu demônio está fisicamente exausto, neste momento adormece nos braços do meu anjo, porém, seus olhos trazem todos os encantos bons, todas as certezas e incertezas, todas as angústias e esperanças. Certamente estamos em paz, eu, meu anjo e meu demônio. Temos força e fé. Somos um tripé. A harmonia se subdivide em razão, emoção e escolhas. Como administradora de empresas por profissão, sou presidente em exercício de uma Holding chamada EU, cuja vice-presidência é compartilhada entre anjos e demônios.

sábado, 17 de novembro de 2012

17/11/2012

Voltei.

Após um hiato inexorável e depurativo de idéias, um semestre se passou. Muitas ocorrências também, cujas magnitudes são indescritíveis e ainda indecifráveis.

Dentre muitas decisões e mudanças, matriculei-me num curso de literatura p/ formação de novos escritores, cujo conteúdo engloba tanto literatura brasileira como estrangeira... estou amando, simplesmente sensacional. Criamos a Confraria dos Cachalotes, um Blog Literário onde publicamos nossas obras magnânimas e ímpares. Nossas aulas acontecem nas manhãs de sábado, uma delícia.

Um mediador, que possui dentre muitas expectativas o desejo de conseguir despertar nesta confraria um equilíbrio sinfônico contido em suas duas polaridades e, acreditem ou não, na mesma proporção: afetivos e linguísticos passeios pelos infinitos canais da comunicação poética, resumidos aqui em literatura caudelosa e/ou literatura cerebral. Em suma, uma voracidade encefálica que chega a ser fálica.

Cá estou eu, no segundo encontro desta oficina literária que se confunde com um psicodrama do mundo moderno, onde mesmo Freud, Marx, Darwin e Nietzsche, com suas diversidades intelectuais e magnitudes imperfeitas, jamais conseguiriam interpretar. Uma verdadeira loucura. Sinto-me uma cretina, vagando num hiato recorrente e apaixonante. 

Tal qual como o observador de Dado Bojart observa o mundo ou até mesmo sob a ótica de Cícero Santos, as dualidades existem sim, mas até que instante as mesmas se contrapõem? Existe uma fusão onde tudo se torna memória celular, inconsciente coletivo, as duas metades de uma mesma laranja ou até mesmo, segundo defendem os físicos quânticos, um universo de infinitas possibilidades onde tempo e espaço inexistem e coexistem simultaneamente entre si. 

O corpo fala. Na sala com cadeiras dispostas no formato da letra U percebo olhares observadores, curiosos, desconfiados, seletivos, ansiosos, distantes e contrariados. Olhares que buscam uma imagem além da janela, uma imagem no topo da escada ou até mesmo uma resposta ou várias respostas na própria figura do mediador, travestido como um trema e que a mim mais parece um acento agudo ou crase. Fico em dúvida. 

O vestido esvoaçante cor azul turquesa de Alice me desperta. Não reparei em sua jaqueta customizada. Imediatamente sou remetida à um jardim onde prevalecem as flores de Amarílis. Um dia apresento-lhes Amarílis, um alter ego que se apropriou de mim ou será o contrário? Seja lá como for, estou certa de que Alice, Amarílis ou qualquer um de nós, somos todos icebergs de fogo. 

Viver ou morrer é o de menos. Não importa se é sábado ou se estamos num beco sem saída. O fato é que, é da queda que nos reerguemos. A vida inteira pode ser qualquer momento. E desta vez o mediador não nos exigiu uma quantidade mínima de duas páginas. Eis que somos cetáceos em evolução, que maravilha, afinal, ser feliz ou não é uma questão de talento. 

Saio da aula e caminho entorpecida. Não me recordo o trajeto escolhido, nem tampouco se haviam carros e pessoas nas ruas, apenas uma sopa de letrinhas a fervilhar dentro de mim. Será a fome? Resolvi parar e almoçar num fast-food com o intuito de não perder um segundo sequer. Ali mesmo, entre uma mordida e outra em meu sanduíche, começo a esboçar os sentimentos e idéias. Não quero perder nada, nenhuma palavra. Daria tudo por um gravador agora. O relógio marca 13:13h. Será um presságio? Uma coincidência? Sei lá. Qual a importância disso agora? As pessoas me olham. Devo estar com cara de louca. Me afogo numa coca-cola deliciosamente gelada, preciso chegar em casa, preciso chegar logo em casa. 

Com sofreguidão transcrevo estas palavras, Clarice Lispector e Simone de Beauvoir iriam amar ou odiar? São 15:15h, hora de encerrar.

terça-feira, 1 de maio de 2012

26/04/2012

"Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves na alma" - (Cora Coralina).

Em toda esta minha humilde existência, não houve nenhum dia em que eu não fosse plenamente abençoada, feliz e realizada.

Quando estamos no "olho do furacão", temos a impressão errônea de que jamais sairemos ilesos...... ledo engano!!! Não só saímos ilesos, como tb totalmente fortalecidos e certos de que Deus SEMPRE opera verdadeiros milagres em nossas vidas...

Nada nos é tirado, simplesmente somos poupados e libertados de algo muito pior, de acordo com a nossa necessidade evolutiva e merecimento espiritual e intelectual.

Minha mais profunda GRATIDÃO ao Universo, que me trouxe até esta manhã, com corpo, alma, coração e espírito na mais completa PAZ e HARMONIA, e, principalmente, consciência mais que tranquila ao deitar-me todas as noites em meu travesseiro... coisa boa... sensação magnânima, avassaladora e indescritível!!!

Esta sou EU, simplesmente VALERIA... Mãe, uma Guerreira Taurina. Teimosa, não!!! Afinal, teimoso é quem teima comigo. Sou administradora de empresas (por profissão) e buscadora (por intuição). Rebelde como o estouro de uma boiada e "porta-bandeira" de mim mesma, sigo meu caminho sempre em frente carregando no peito três certezas:
 
1) Só o Amor Constrói;
2) Querer é Poder;
3) Tudo é bom.

Enfim... sou simplesmente MULHER!!!

Namastê.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

18/04/2012

"Deu tudo certo, vc está livre... agora falta pouco." Estas foram as palavras aliviadas que ouvi hoje da minha médica oncologista, emolduradas num belo sorriso seguido de um suspiro interminável.

CONSEGUI... Enfim ESTOU LIVRE!!!

TODOS os exames na mais perfeita ordem. A cirurgia será realmente segmentada, apenas p/ realização do Linfonodo Sentinela. Enfim, meu casulo está se abrindo... e eu nem acredito.
Momento de celebrar a VITÓRIA, a SAÚDE e a VIDA!!!

Esta conquista jamais seria possível sem meus ANJOS DA GUARDA... Equipe de Enfermagem/Quimioterapia do ISO HOSPITAL DIA, incansáveis, dedicados e queridos, muito queridos. À todos, minha mais profunda gratidão e afeto!!!

Estou reaprendendo a viver, afinal, o protocolo de tratamento ainda segue e seguirá por pelo menos 5 anos. Ainda tenho pela frente a cirurgia, a radioterapia, os 18 meses de Herceptin, Heparinização (limpeza) Mensal do Portocath - Catéter (meu Mickey Mouse) que ainda ficará dentro de mim por pelo menos mais dois anos...

No momento, 30 dias após o término das quimioterapias, ainda sigo administrando os efeitos colaterais e como se não bastasse, o corpo entra em abstinência quimioterápica - muito louco tudo isso... sem palavras...
Exceto pelo fato do ácido lático desordenado estar me judiando, com dores musculares por todo o corpo, principalmente nos membros inferiores, ainda assim estou bem, comemorando sempre!!!
 
Pareço uma idosa de 100 anos, mal consigo caminhar e subir escadas, rígida feito um robô, se cair um objeto no chão, nem em pensamento eu consigo pegar, ficar de cócoras é um luxo que hoje não me pertence.

E os sapatos de salto alto, o que faço com eles??? Impossível dar um passo sobre os mesmos!!! Só nas rasteirinhas... quem me viu e quem me vê... kkkkk. É chegada a hora de rever meus conceitos e renovar os estoques!!!

A rotina de exames ainda segue... hoje tive RX de Tórax agendado p/ 11:30h, protocolo pré-operatório.

A quimioterapia permanece circulante no organismo até 1 ano após o término do tratamento. Por conta disso, minha médica me garantiu que nesta mesma data em 2013, estarei novinha em folha, totalmente renovada, fisica e celularmente... e que venha o novo!!!

Por aqui sigo na contagem regressiva, disciplinadíssima!!!

O melhor de tudo isso é que já posso chegar perto da praia (apenas caminhar no calçadão - pela manhã, até às 9h ou na parte da tarde, após às 16h)... Pé na areia e banho de mar ainda não... UM DIA DE CADA VEZ.

terça-feira, 17 de abril de 2012

17/04/2012

VIVER SEM MEDO

"Imaginemos uma vida sem medo. Imaginemos a sensação de viver em plena confiança e Fé, sem duvidar nunca que o melhor que possamos imaginar nos chegará, como a todos que amamos. Uma vida assim é possível, mas não poderá ocorrer sem a intenção e a devoção para este propósito.

A maioria de nós vive a vida com medo. Temos medo de não conseguir o que necessitamos, seja no amor, segurança, dinheiro, amigos, trabalho ou conhecimentos. A maioria das pessoas toma decisões baseadas no medo.

O problema de utilizar o medo como base em nossas estruturas vitais, é que o medo não tem consistência por si mesmo, por ele não sustentar nada, justamente por ser estéril. O medo é algo estranho, que fecha os corações e causa névoas profundas na mente. Quando vivemos com medo não conseguimos pensar direito, e assim, não vivemos com nosso potencial.
O que realmente interessa é viver bem com nosso próprio “eu”, o que pode significar ter que iniciar um trabalho de limpeza interna e ter uma relação íntima com o divino, na forma que agrade. Quando estamos de bem com nós mesmos, e em perfeito contato com a essência divina, não temos nada a temer.

Todos os medos nascem do medo à morte. É instintivo de nós querer viver, mas não podemos negar que devemos deixar esta forma corpórea algum dia. As mudanças interiores também simbolizam uma espécie de morte, que é a transformação de uma vida para outra.

Viver com medo nos distrai de nosso verdadeiro propósito de vida e da nossa existência na Terra. Paremos para analisar todos os medos, que anos de preocupações ocuparam nossa mente; perceberemos que os mesmos jamais ocorreram. Muitas vezes o destino se encarrega de mudar os fatos, seja através de nossas meditações, orações ou simplesmente mudanças interiores.

Em todos os séculos sempre surgiram predições de catástrofes, desastres, da escuridão e do Juízo Final. Algo ocorre e algo não. Não se pode viver a vida baseando-se no “talvez”, que seria um triste desperdício do potencial humano. Quando enfocamos nossos pensamentos e energias para a divindade da vida, o Todo Poderoso, começamos sentir sua onipresença e o medo se evapora.

Somos uma expressão de Deus com forma e, portanto, não devemos sentir medo. Existem pessoas que são felizes com seus dramas e ficam aborrecidas quando estão em paz. Talvez viver com incertezas as fazem sentirem-se mais viva Cada pessoa “faz” suas emoções. Existe muito trabalho a ser feito, seja com os mais humildes ou com o nosso Planeta. Devemos primeiramente buscar tempo para interiorizarmos, centrarmos e ter uma experiência pessoal com o Divino. Depois devemos fazer amizade com os nossos temores e medos, para entender o que eles querem nos ensinar.

Viver a vida com amor e fé não gera espaço para medos e dúvidas constantes. Viver a vida no presente, com a intenção consciente de amor e honrar a todos e tudo que nos rodeira, nos fará amarmos e honrarmos a nós mesmos".

Texto de HELENA GERENSTADT.
Terapeuta Holística, atuando com a Numerologia Pitagórica e a Árvore da Vida, Tarot Egípcio, Reiki, Radiestesia e Radionica, e outras ferramentas.
Ministrante de vários cursos - vide site www.agarta.com.br
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segunda-feira, 2 de abril de 2012

28/03/2012

ACABOU...

Finalmente chega ao fim a jornada de quimioterapias!!!

Num total de 8 ciclos realizados a cada intermináveis 21 dias, com início em 27/10/2011 e término em 21/03/2012.

RENASCIMENTO, MATURIDADE, LEVEZA, EQUILÍBRIO e FORÇA... tudo isso veio junto no pacote... quanta GRATIDÃO, quanto aprendizado!!!

Agora é VIDA NOVA... Ainda em repouso, preparando-me p/ cirurgia em breve. E que venha o que vier... estou pronta!!! O pior já foi... AGORA É SÓ ALEGRIA... e VIVA LA VIDA.

Namastê.

Em repouso, ainda me recuperando dos efeitos colaterais causados pela última quimioterapia, ou seja, tudo dentro da mais perfeita normalidade.

Difícil mesmo foi reestabelecer as emoções, depois de receber tantos depoimentos, curtidas e compartilhamentos em relação a postagem que publiquei no último sábado, dia 24/03/2012...

CARACA!!! Eu não fazia idéia, a coisa saiu do controle, saiu da ...esfera "amigos" e caiu na rede ... tenho recebido mensagens de gente que não conheço, que contam suas histórias c/ experiências semelhantes e/ou de um ente querido e me pedem uma orientação... p/ mim??? Nem sei o que dizer...

Mas com certeza responderei p/ todos. A princípio, vou me reestabelecendo e mantendo a premissa básica e fundamental: UM DIA DE CADA VEZ!!!

Obrigada, obrigada, obrigada!!! E, após consulta com o Dr. André Perdicaris...

Mais uma excelente notícia: NÃO farei Mastectomia Radical, apenas um quadrante... caraca!!! Agora só falta o resultado do Linfonodo Sentinela (medicina nuclear) p/ confirmar se haverá ou não necessidade de esvaziamento da axila.

A data provável p/ realização da cirurgia é 23/04/2012.

Sem palavras... MUITO FELIZ!

20/03/2012

CONTAGEM REGRESSIVA

Neste momento, nenhum símbolo poderia ser mais fiel aos meus sentimentos do que este: a Mandala Flor de Lótus... Estou em contagem regressiva p/ a próxima quarta-feira, dia 21/03/2012 - data da ÚLTIMA quimioterapia.

Nossa, são tantas emoções, tantas coisas acontecendo simultaneamente, afinal a vida segue (embora eu tenha procurado CONGELAR muitas coisas p/ retomar em breve), a vida segue!!!

Hoje,... em consulta c/ a minha médica, descobri que adicionei 8kg de peso em meu corpo desde o início do tratamento. Isso é resultado de muita medicação, corticóides, mas principalmente ansiedade.

Como disse à Dra. Martha, toda vez que preciso de colo, me afogo num doce... vários doces, até acalmar o vulcão interno. Tem dias que uma lata de leite condensado não dá conta. Sorvete então... nem se fala!!! E ela me disse que eu tenho que comer SIM... sempre e tudo o que tiver vontade (moderadamente), sem abandonar os hábitos saudáveis... tarefa confusa, mas até que está dando certo.

O bom é a certeza de colocar tudo no lugar certo em breve... literalmente TUDO.

Os exames estão excelentes... já estou c/ os pedidos pré-operatórios, exames de imagem, avaliação cardiológica e tudo o mais. A cirurgia está prevista p/ acontecer entre a última semana do mês de abril à primeira semana do mês de maio.

Passou tudo tão rápido... às vezes parece que esta história nem é minha... uma loucura!!! Por incrível que pareça, o mais difícil agora é me olhar no espelho, pois vejo uma imagem feia e contraditória, afinal é esta imagem que marca o meu verdadeiro RENASCIMENTO.

Cheguei num ponto onde maquiagem não resolve mais, nada disfarça o abatimento. O rosto está redondo como a lua cheia, nenhuma roupa me serve mais, tem dias que o inchaço é tão grande que chego a ficar "amassada", os pés e pernas parecem de gestante. Outro dia o sapato não queria sair do pé, acabei caindo na risada...

UM DIA DE CADA VEZ!!!

domingo, 11 de março de 2012

11/03/2012

VÁCUO

Muitos dias sem escrever e/ou verbalizar...

Esta fase do tratamento é sinestesia pura, todos os efeitos colaterais do universo juntos, bombardeando corpo e mente, diariamente, minuto a minuto, sem trégua. Toda a teoria p/ nada serve. Esgotamento total. Não há nada que eu escreva ou fale que possa traduzir este momento. Qualquer expressão não chegaria aos pés da ponta do iceberg rígido e frio, meu habitat natural nos últimos meses.

As quimioterapias estão chegando ao fim, dia 21/03/2012 será a última sessão. Já estou c/ o pedido médico p/ os exames pré-operatórios e consulta agendada c/ anestesista p/ o dia 27/03/2012. Provavelmente a cirurgia se realize na primeira quinzena do mês de abril... uma mastectomia... que presentão de aniversário!!!

Melhor encarar tudo isso como um RENASCIMENTO!!!

Sempre fui contra essa coisa toda de próteses de silicone p/ uso exclusivamente estético e olha eu agora na mesma situação... mas isso é um capítulo à parte. Tudo a seu tempo.

Meu tratamento está sub-dividido em três fases:

Fase 1: Quimioterapia = envenenar.

Fase 2: Mastectomia = mutilar.

Fase 3: Radioterapia = queimar.

Estou exausta, física e emocionalmente. Ansiosa pelo final do tratamento, com medo, com tudo junto e misturado. Sei que o pior já passou, a fase mais dolorida e demorada... as quimioterapias, mas quero me livrar de TUDO!!!

Quero minha vida de volta, em todos os aspectos.




segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

08/02/2012

TRAUMA

Início do sexto ciclo de quimioterapia, sendo o segundo e antepenúltimo ciclo p/ o final do tratamento - medicação Taxotere (tamoxifeno). Como já havia sido alertado pela minha médica, a partir de agora TUDO fica mais difícil, tanto física quanto emocionalmente. Corpo e mente exaustos e extremamente debilitados pela carga cumulativa do tratamento.

Estou no pique, levei meu netbook p/ sessão de quimioterapia e segui trabalhando, respondendo aos e-mails, falando ao celular e tudo o mais... fiz da sala de quimioterapia praticamente meu home-office (como sempre).

Só não contava em ser traída pelo meu estado emocional, que encontra-se tão vulnerável como um fio de navalha...

Uma nova amiga do peito juntou-se a nós p/ seu segundo ciclo de quimioterapia, praticamente início de tratamento, onde tudo é novidade. Uma mulher madura, mãe e avó, linda e cheia de vontade de viver. Eu estava lá, firme e forte, tentando passar o máximo de esperança e força p/ ela. Ali, rimos e choramos juntas, nos emocionamos, principalmente quando ela me contou que seus três filhos homens, casados, pais de família e bem sucedidos na vida, todos rasparam suas cabeças e estão carecas, em solidariedade à esta mãe... e ela me mostrou a foto dos três carequinhas!!! Coisa mais linda de se ver, amor incondicional!!!

Até aí eu bem que segurei a minha onda, mas na hora em que a enfermeira trouxe a Adriblastina (quimioterapia vermelha) e colocou na minha colega... surtei. Simples assim, mesmo sem saber como. Me deu uma aversão tão grande que não consegui mais olhar p/ ela e nem tampouco p/ aquela medicação cor de groselha, horrível. Estou até a gora tentando entender o que me deu. Só sei que tentei disfarçar, mudar o foco, enfim...

O que mais me traumatizou na Adriblastina não foram os efeitos colaterais, conforme descrevi em um post do dia 07/12/2011, nem mesmo a queda dos cabelos (que aliás já estão se aventurando a começar a crescer). O meu maior trauma é o cheiro desta medicação. Sim, o cheiro. E não poderia ser diferente, pois sou extremamente sinestésica e o olfato sempre foi um de meus pontos fortes.

O cheiro da Adriblastina me incomodou e me marcou tanto a ponto de, durante o tratamento (4 sessões iniciais que duraram do dia 27/10/2011 ao dia 28/12/2011), eu tomar vários banhos ao dia e trocar as roupas de cama diariamente, pois sentia este cheiro horrendo exalar das minhas entranhas e putrefar minhas roupas, minha cama, minha casa.

De repente, sentir este cheiro de novo, ver aquele líquido vermelho outra vez... foi como um golpe de misericórdia em minha resistência emocional.

SUCUMBI.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

24/01/2012

FEMININO SEM FRESCURA

Há muito o que escrever, porém estou numa fase mais introspectiva, em depuração. Momento intenso e particular, onde as emoções estão todas à flor da pele.

Hoje, especialmente, surgiu uma vontade louca de gritar ao mundo e publicar em todas as mídias um monte de coisas. Eclodir emoções, no sentido mais amplo da palavra. Não estou cabendo dentro de mim... mas me fogem as palavras, de tão avassalador e inexorável que é este turbilhão de sentimentos que se chama EU.

Assim sendo, recorro ao “vizinho” e neste momento faço minhas as palavras de Luciana Onofre, esvaziando o meu recipiente terreno:

“Sou fêmea que cria “a cria” sem lamentos pelo tempo perdido, nem dores de amores. Que escolhe amores, não pela liberdade em poder ter os amores que desejar, mas sim o amor que me construa. Meu feminino não alega mal-estar para sentar e esperar o que o tempo deve trazer, mas corre pela estepe atrás do que quer ver acontecer. Meu feminino não usa muletas que justifiquem meus erros colocando-os em outros, assumo atos, palavras, pensamentos. Meu feminino não se traveste de masculino para penetrar no mundo, mas se veste de múltiplas cores para ser o mundo”.

domingo, 15 de janeiro de 2012

14/01/2012

A MULHER NO SUPERMERCADO
Ganhar respeito dos demais, tendo a ousadia de ser eu mesma... como é difícil e intenso isso!!!
A montanha-russa emocional pela qual estou sendo submetida está me enlouquecendo. Já passei por TODOS os efeitos colaterais físicos de uma quimioterapia, uns com maior intensidade, outros nem tanto. Até acho que estou suportando de forma bem razoável, talvez pelo fato de ter me preparado para o pior, o insuportável. Mas, avassalador mesmo são os efeitos colaterais emocionais... caraca. Algo como suportar as quatro estações climáticas do ano num mesmo dia. Ou seja, surreal.

Minhas emoções estão demasiadamente a flor da pele, sintonia fina, tolerância zero e toda a parte sinestésica com a sensibilidade ampliada em milhões de vezes. Me sinto numa constante TPM múltipla.
Quem convive comigo de forma mais próxima também sofre, obviamente.

O dia de hoje foi ótimo, produtivo e motivador. Eu estava realmente muito bem até resolver ir ao supermercado. Tudo normal, afinal, o que pode haver de tão ameaçador numa simples ida à um supermercado?
Iniciei minhas compras e estava distraída c/ meu filho, escolhendo quais os sabores p/ pipocas de microondas, quando uma moça, que eu nunca vi na vida, me cutucou, pediu licença e me perguntou: “vc se curou?”

Eu, pega de surpresa e sem entender a intenção da pergunta, respondi automaticamente que SIM.
E ela completou: “Tomara que sim. Tive uma amiga que teve câncer de mama e que tb pensou que tinha se curado, mas quatro anos depois apareceu uma metástase e ela morreu”. Virou as costas e saiu, como se nada tivesse acontecido. Travei.

Gente!!!!! Perdi o chão. O meu filho, tadinho, arregalou os olhos assustado. Só me fez uma pergunta óbvia: “mãe, vc conhece essa mulher?”
Conclusão: Não consegui terminar minhas compras e entrei em desespero... me vi de novo dentro do mundo paralelo, perdida. Caí em prantos, no meio do supermercado. Fiz um esforço enorme p/ manter o controle por conta do Arthur, que ficou sem entender nada.

Voltamos rapidinho p/ casa e p/ completar, nossa noite de sábado terminou c/ um black-out por conta de um vendaval que atingiu toda a baixada santista. Com a cabeça bombando de dor, tomei um banho gelado à luz de velas. Me debulhei em lágrimas numa dor emocional aguda, um transbordamento... adormeci.