"Sou uma mulher madura, que as vezes brinca de balanço.
Sou uma criança insegura, que as vezes anda de salto alto."
(Martha Medeiros)

Este Blog tem por objetivo catalogar minha caminhada nesta jornada diária na busca incessante pelo auto-conhecimento e compreensão das coisas com a ampliação de consciência. Esta tarefa faz parte do meu exercício de auto-disciplina e comprometimento comigo mesma.


Sigo meu caminho, um dia de cada vez, colocando cada coisa em seu lugar, re-organizando aos poucos toda a minha existência. Mas... de que forma??? Condição sine-qua-non ou regra de ouro: Nunca fazer ao outro aquilo que não gostaria que o outro me fizesse. Deixar a ansiedade e o orgulho de lado, controlar o ego e exercitar o perdão.

Simples, mágico e divertido... com certeza!!!

Por fim, decidi fazer um diário emocional onde irei registrar minhas impressões sempre que algo relevante chacoalhar minha estrutura sinestésica feminina, cujo título não podeia ser outro, senão O DIVÃ DE VALERIA KENCHICOSKI.

Valeria Kenchicoski - março/2010.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

21/12/2011

EFEITO SOMBRA

Alguém se lembra do filme “De Volta para o Futuro”? Nossa, esta trilogia foi uma das febres dos anos 80, onde os meninos queriam SER Marty Mcfly (representado pelo ator Michael Jay Fox)... enquanto as meninas queriam TER Marty Mcfly... eu mesma me incluo nesta lista!!!
Na verdade, uma das cenas que mais me marcaram nesta trilogia era quando Marty olhava p/ uma foto de família (com seus pais e irmãos) que havia em sua carteira. A medida em que a trama do filme se desenrolava alguns personagens contidos na tal fotografia, foram ficando c/ suas imagens transparentes, como uma marca d’água, um verdadeiro efeito sombra. Como se fossem sendo literalmente apagados de sua existência... até deixarem de existir. Esta é a verdadeira magia do filme, Marty Mcfly luta contra o tempo p/ recuperar a nitidez da imagem dos personagens presentes nesta foto e, consequentemente, em sua vida.
Mas, quem estiver lendo este texto agora, deve estar se perguntando qual a relação dentre os assuntos... e eu explico: Eu sou a sombra!!!
Pelo menos é assim que me sinto agora. A medida em que os dias passam, me sinto como se estivesse sendo gradativamente “apagada da vida”. No começo, logo quando descobri estar c/ câncer, minha casa ficou cheia, meu telefone não parava de tocar, o facebook “bombava” mensagens e tudo o mais. Porém, minha patologia deixou de ser a novidade do momento, virou rotina. Dia após dia a rotina de todo mundo seguiu seu curso, menos a minha... pois uma pessoa submetida à sessões de quimioterapia não tem a menor possibilidade de ter uma “vida normal”. Assim sendo, sua vida pessoal, social, profissional e etc., são brutalmente interrompidas, violadas, dilaceradas. Simultaneamente, a platéia vai indo embora, um a um, afinal o “espetáculo” se torna repetitivo a cada 21 dias, até que num determinado momento vc está totalmente só. Me sinto fora do contexto de uma vida propriamente dita. Por mais que teoricamente eu saiba que tudo isso vai passar, que é um “pit-stop” estratégico p/ meu crescimento em todos os sentidos, por mais que eu saiba que jamais serei a mesma pessoa, e isso não serei mesmo, ainda assim é tão doido, tão difícil, tão insuportável... me sinto como a águia, que se esconde nas montanhas no momento de trocar as penas, o bico e as unhas... sim, a águia se esconde p/ sofrer sua metamorfósica dor em silêncio p/ depois voltar aos palcos plena, forte e segura, como nenhum outro ser mortal poderia imaginar.
Não me sinto pertencente ao mundo dos vivos. Saio na rua e todos me olham... uns c/ dó, outros se afastam, sussurram sei lá o que. Já tive vontade de gritar: tenho câncer SIM, estou careca e debilitada SIM, algum problema? Alguém paga minhas contas, resolve meus problemas, enxuga minhas lágrimas? Só eu e meu travesseiro sabemos a real, a cada noite escura da vida, a cada efeito colateral... as pessoas “pensam” que sabem, mas não fazem a menor idéia. Então, parem de me olhar desta forma, de me tratarem como um zumbi. Não estou morta, ainda não.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

08/12/2011

CHORO
Hoje, meu choro que mistura tristeza e felicidade, não me deixa sossegada. Duas experiências diferentes, duas leituras uma tão positiva, outra nem tanto, passaram como tudo passa. E vão passar mais ainda, vão viver em breve no espaço das memórias. Mas eu enxugo as lágrimas, digito e edito as fotos. Porque ainda estou viva. E ainda acho que passarei por muitas outras emoções...
Só eu sei, tenho me mantido firme e forte porque é isso o que todos esperam de mim (a eterna fortaleza). Manter-me firme e forte também faz parte do meu tratamento, o emocional é TUDO e neste aspecto fazer terapia está sendo de fundamental importância.
A terapia, entre outras coisas, está me ensinando a “liberar os corvos”... a não guardar nenhum sentimento que me incomode ou que me faça sofrer.
Impossível negar...  está sendo MUITO DIFÍCIL, doído, amargo, extenso, enfim, tem horas que bate o desespero total, tudo junto e misturado. Na verdade, nascemos e morremos sozinhos e nesta etapa da minha vida não está sendo diferente, porque por mais que as pessoas se preocupem e tentem me confortar, ou estar por perto, é sempre uma imensa solidão, um abismo que só quem vivencia pode entender.
Estar fora do ar, ausente do mundo, da minha profissão e de minha vida propriamente dita me ajuda e me atrapalha ao mesmo tempo...  me ajuda fisicamente e me atrapalha emocionalmente.
Novos efeitos colaterais aparecem a cada nova fase do tratamento, agora o ciclo menstrual foi interrompido, mais uma piração emocional e hormonal, hormonalmente uma bola de fogo que me corre o corpo todo, emocionalmente um turbilhão de sentimentos.
Me mantenho firme e forte... porém,  só eu sei a que preço. Me sinto invadida, dilacerada, vasculhada nas entranhas... nunca conseguirei descrever em palavras o que sinto e o pior é que as pessoas querem saber, mas não possuem alcance p/ compreender...
Tenho procurado perceber o que me incomoda de verdade, o que é carência ou viagem na maionese. Estou pautando meus sentimentos e ações com base em certezas, evitando assim maiores transtornos psico-emocionais.
Estou aproveitando este meu “pit-stop” obrigatório para pensar e olhar a vida de uma nova maneira, com um novo olhar, uma nova perspectiva, em busca de novas percepções, respostas e escolhas. A cada dia temos sempre a chance de refletir, repensar, revisar, refazer e o meu momento chegou... AGORA OU NUNCA!!!
E tem mais, com o câncer constatei que tudo está sendo melhor agora do que antes. Estou tendo a grata oportunidade de olhar de novo para dentro de mim mesma, de me reconhecer e fazer o meu melhor. Parar, refletir e inclusive, se for o caso, mudar de opinião, mudar de ideia, fazer de novo. É olhar para trás e olhar de novo para, com o intuito de caminhar com maior firmeza rumo a um futuro sempre melhor.
É chegada a hora de Revisar, refazer, relembrar, repensar, retomar, reavaliar, recomeçar...
Porém sem jamais me esquecer que devo aceitar, honrar e respeitar o passado, mas devo também deixá-lo em seu devido lugar: NO PASSADO.

domingo, 4 de dezembro de 2011

07/12/2011


TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO – DOMANDO UM LEÃO A CADA DIA...
Compromissos que são desmarcados, planos que mudam e a necessidade de rever a agenda... esta é a minha realidade atual. Sempre tive o hábito de me antecipar, agir, controlar e resolver tudo de uma vez, mas agora, definitivamente, a melhor solução é entregar para o universo e esperar... tarefa quase impossível p/ mim.

Passei os últimos 3 meses catatônica, sem ação, sem conseguir expressar idéias e sentimentos. Só agora as palavras começam a fazer sentido, por este motivo, estou documentando os fatos c/ um certo atraso cronológico.
Minha primeira sessão de quimioterapia foi realizada dia 27/10/2011, das 8:00h às 11:00h. A segunda sessão em 16/11/2011 e a terceira em 07/12/2011, no mesmo horário. Confesso que no primeiro dia eu estava apavorada, morrendo de medo, um misto de sentimentos indecifráveis. Estava tão nervosa que minhas veias desapareceram... ufa, mas deu tudo certo. Claro que chorei quando a medicação começou a correr, afinal, tenho consciência do envenenamento celular proporcionado pela quimioterapia, bem como os infinitos efeitos colaterais.

1)  O QUE É QUIMIOTERAPIA?

A quimioterapia nada mais é do que um tratamento sistêmico, ou seja, que atua em todo o corpo e utiliza-se de medicamentos que vão interferir na divisão celular, preferencialmente nas células tumorais, visando destruí-las, impedindo o crescimento do tumor e aliviando os sintomas causados por seu desenvolvimento.

A quimioterapia pode ser indicada isoladamente ou associada a uma cirurgia (antes ou depois). Pode ainda ser feita em conjunto com outro tipo de tratamento, por exemplo, a radioterapia. A escolha do tipo de tratamento depende de vários fatores, como o tipo de tumor, a sua localização, o estado físico do paciente e o estágio da doença. 

2)  VIAS DE ADMINISTRAÇÃO

As principais vias de administração são:
- via oral, por meio de comprimidos;
- via endovenosa por meio de injeção na veia ou infusão de soro.

Durante a aplicação endovenosa, geralmente não são observados sintomas, mas é importante que enquanto estiver recebendo o soro, hajam cuidados para evitar estravazamentos (vazamento da medicação).

A quimioterapia é uma medicação extremamente agressiva p/ as veias, por isso é realizada com a implantação de um catéter intravenoso chamado “porto-cath”. A colocação deste catéter é um procedimento cirúrgico de pequeno porte e auxilia bastante na preservação dos acessos venosos periféricos.

3)  TEMPO DE TRATAMENTO

A duração, a forma e o tempo de tratamento dependerão do tipo da doença e do esquema terapêutico proposto. As aplicações podem ser diárias, semanais, quinzenais ou mesnsais, obedecendo os intervalos estabelecidos pelo médico. No meu caso são realizadas a cada 21 dias.

Periodicamente a resposta ao tratamento é avaliada.

Conforme o resultado dos exames, o planejamento do tratamento poderá ser modificado.

A maneira que cada organismo reage às drogas utilizadas é um dos fatores importantes na determinação do intervalo e da duração do tratamento. Esta duração vai depender, entre outras coisas,da resposta do tumor às drogas utilizadas. 

4)  EFEITOS COLATERAIS

Como os quimioterápicos não possuem uma ação seletiva exclusiva para células tumorais, eles acabam interferinndo também na divisão celular das células saudáveis e por isso podem debilitar o paciente e causar efeitos colaterais. Estes efeitos não são apresentados por qualquer paciente submetido à quimioterapia. Eles são bastante pessoais e variam de acordo com o tipo de droga utilizada e com a forma que o organismo responde ao tratamento. Por isso, alguns pacientes podem apresentar efeitos colaterais mais intensos enquanto outros não apresentam nenhum sintoma. De um modo geral, estes efeitos colaterais surgem a partir do segundo dia de aplicação e desaparecem após o quinto dia. Porém, alguns efeitos colaterais são cumulativos. 

- Náusea e vômito: surgem geralmente no dia seguinte à aplicação. Podem ser intensos ou não; 

- Mucosite: alguns medicamentos podem causar o aparecimento de feridas na boca, aftas, às vezes dolorosas e que dificultam a alimentação; 

- Febre: alguns dias após a realização da quimioterapia há uma queda da resistência do organismo, tornando mais fácil a contração de infecções por vírus, bactérias ou fungos. O surgimento da febre pode ser apenas uma reação normal ou sinal de presença de infecção; 

- Diarréia: alguns quimioterápicos podem causar diarréia em maior ou menor intensidade; 

- Constipação: alguns quimioterápicos podem causar prisão de ventre; 

- Dor no couro cabeludo e alopécia (queda dos cabelos e pêlos pubianos): nem todos os quimioterápicos provocam queda de cabelo, mas alguns deles interferem na multiplicação das células que dão origem ao cabelo e pêlos pubianos, provocando uma queda que pode ser parcial ou total, com início geralmente após o décimo quinto dia da primeira aplicação. A queda de cabelo é temporária, após o tratamento o cabelo volta a crescer. Às vezes o crescimento se inicia mesmo durante o tratamento, dependendo da droga utilizada; 

- Pele e unhas: alguns quimioterápicos podem provocar alterações na pele, como coceiras, irritação e ressecamento. As unhas também podem ser afetadas tornando-se quebradiças, com rachaduras e escurecidas; 

- Dentes: problemas dentários e jenjivais podem surgir com maior frequência; 

- Leucopenia: redução do número de glóbulos brancos ou leucócitos. É a queda da resistência do organismo; 

- Plaquetopenia: redução do número de plaquetas. As plaquetas são responsáveis por evitar sangramentos no organismo; 

- Anemia: redução dos glóbulos vermelhos; 

- Alteração das papilas (paladar); 

- Sensação de fadiga e sudorese; 

- Dor nos ossos; 

- Ciclo menstrual: algumas drogas usadas na quimioterapia podem interferir na produção hormonal, diminuindo os níveis de hormônio que circulam no sangue. Isto pode levar a alterações do ciclo menstrual e até mesmo a sua interrupção completa.
O melhor de tudo é que estou ótima, até o momento efeito colateral zero, apenas uma pequena náusea e vômito uma única vez, um gosto amargo na boca e um calor repentido às vezes. Nada de sudorese, mal estar, indisposição, nada mesmo!!! Pique total, FÉ e confiança total.
Estou fazendo tudo direitinho, muita hidratação, repouso, dieta levanta defunto made in family (caldo de mocotó c/ pé de galinha, gema de ovo de pata em jejum e suco de maçã c/ inhame - tudo p/ manter a imunidade em alta - condição fundamental p/ o sucesso do tratamento) além da dieta apresentada pela nutricionista que se resume a muita água de coco, isotônicos, água mineral, frutas, verduras e legumes em abundância.
Vamo que vamo, um dia de cada vez!!! é que estou ótima, até o momento efeito colateral zero, nenhuma náusea e nem vômito, apenas um gosto amargo na boca e um calor repentido de vez enquando. Nada de sudorese, mal estar, indisposição, nada mesmo!!! Pique total, FÉ e confiança total.
Estou fazendo tudo direitinho, muita hidratação, repouso, dieta levanta defunto made in family (caldo de mocotó c/ pé de galinha, gema de ovo de pata em jejum e suco de maçã c/ inhame - tudo p/ manter a imunidade em alta - condição fundamental p/ o sucesso do tratamento) além da dieta apresentada pela nutricionista que se resume a muita água de coco, isotônicos, água mineral, frutas, verduras e legumes em abundância.
Vamo que vamo, um dia de cada vez!!!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

01/11/2011

UM MUNDO PARALELO


Após a confirmação do diagnóstico, me senti num mundo paralelo, um hiato entre tratamento e resultado efetivo. As pessoas te olham diferente, te tratam diferente. Eu me sentia a mesma, plena e saudável. A imagem no espelho não refletia uma pessoa com câncer. Como isso é possível?

Porém, com o tempo, o estigma toma conta, a vida muda radicalmente. Não sou mais dona da minha agenda, de meus compromissos. Tudo está atrelado a datas de exames, consultas, quimioterapias, etc... a ser decidido pela equipe médica. Eles apenas te informam a data e a hora do procedimento a ser realizado, simples assim. Ninguém te pergunta se vc está ou não de acordo, pois é como te pedir p/ escolher viver ou morrer.

O discurso da certeza de cura é decorado e repetido por todos, bem como os percentuais de sucesso... Ao mesmo tempo tudo acontece de uma forma tão urgente que vc se sente em pré-óbito. As recomendações médicas durante o tratamento são: VIDA NORMAL.

Vida normal??? Fala sério!!!

Durante uma semana só chorei, durante as 24 horas do meu dia. Meu rendimento profissional despencou, perdi o apetite (conseqüentemente peso), não tinha coragem de olhar p/ o meu filho... como dizer a ele que eu ia morrer? Sim, pq nas duas primeiras semanas eu só tinha certeza da morte. Tanto que me esqueci que toda a humanidade vai morrer um dia e que eu poderia inclusive morrer atropelada, por exemplo. Até o carro eu bati. Por um curto espaço de tempo perdi a Fé, mas nunca me revoltei c/ Deus e nem tampouco tive pena de mim mesma. Só queria entender os desígnios de Dele em relação à minha pessoa.

O câncer é uma violência física e emocional. Tudo é incerteza. O que dá certo p/ A pode não dar certo p/ B e assim sucessivamente. Nada é parâmetro de coisa alguma. Literalmente é uma doença que corrói as entranhas da alma... é assim que me sinto. A única certeza é o diagnóstico e o início do tratamento... o resto... ninguém garante. Quais os resultados? Não dá p/ saber. O tratamento está sendo eficaz? Antes da quarta sessão de quimioterapia ninguém sabe. Ainda assim, tem a cirurgia, outra incógnita... só na hora H o médico saberá o que vai encontrar, se haverá ou não metástases, enfim... isso é vida normal???

Sem contar na voz do povo, que neste caso é tudo, menos a voz de Deus. Passei a ouvir de tudo, infinitas histórias... o pior é que as pessoas pensam que estão te motivando e estão de empurrando p/ beira de um penhasco... é horrível!!! Indescritível!!! Tem horas que tudo o que vc não quer ouvir é que vai dar tudo certo, parece um disco arranhado, tipo a pessoa não tem o que te dizer e diz que vai dar tudo certo... definitivamente, não desejo este estigma p/ ninguém. O Câncer é a pior tortura física e psicológica que um ser humano pode ser submetido, não há palavras p/ explicar tais sensações.

Em resumo, a vida é um rio largo, cujas margens estão pessoas com câncer e pessoas sem câncer. Não consigo mais interagir socialmente, planejar, construir... não me sinto mais parte do todo e sim a experiência que não deu certo c/ uma imensa platéia a espera do próximo capítulo.

03/10/2011

MEMÓRIA CELULAR... O CORPO FALA - COMO TUDO COMEÇOU

Em meados de julho/2010, comecei a sentir umas pontadas no seio esquerdo. No início eram esporádicas, mas foram se tornando mais freqüentes c/ o passar dos dias.
Faço meu check-up ginecológico anual sempre no mês de setembro e neste ano não foi diferente... papanicolau, ultrassom de mama e transvaginal, mamografia e dessitometria óssea. Tudo absolutamente NORMAL.
Comecei a fazer mamografia a partir dos 30 anos de idade, pois perdi minha mãe p/ um câncer de mama mau diagnosticado e mau cuidado, o que ocasionou metástase óssea e pulmonar, levando-a a óbito em 21/05/2008 aos 59 anos de idade.
Com os exames normais em mãos, me tranquilizei, mas as pontadas em meu seio esquerdo continuavam a me incomodar. Hoje sei que deveria ter repetido os exames em seis meses, mas confiei na informação do meu médico, que julgou não ser necessário.
A partir de março de 2011, meu mamilo esquerdo começou a coçar e a cada TPM, o seio começou a ficar mais denso e dolorido do que o normal... sempre o seio esquerdo, pois o seio direito era assintomático.
Na correria do dia a dia, deixei de lado, na verdade fugi da verdade, num medo paralisante de descobrir algo que meu corpo já sinalizava de forma agonizante.
Até então, não havia nódulo palpável e eu em minha ignorância julguei que estivesse tudo bem. Fui adiando a consulta médica na esperança de não ser nada de mais, mas meu coração estava apertado... memória celular... o corpo fala.
E veio julho/2011, exatamente um ano depois do primeiro sintoma, quando durante o banho senti um nódulo. Meu mundo caiu. Entre um compromisso profissional e outro, deixei que mais um mês passasse... em agosto meu mamilo rachou e começo a liberar uma secreção incolor. Daí bateu o desespero.
Finalmente agendei consulta c/ o meu ginecologista que ao me examinar me tranqüilizou dizendo que poderia ser apenas um fibroadenoma. Ufa... menos mau.
Fibroadenoma? Ledo engano... já na clínica de diagnóstico por imagem, ao realizar a mamografia e o ultrassom de mama o médico me sinalizou a gravidade, pois pediu urgência em retornar ao meu médico, inclusive me antecipou os laudos p/ o dia seguinte, já sugerindo uma biópsia de mama.
Assim foi feito. Eu já tinha certeza do diagnóstico, sempre tive. Mas o medo paralisante retardou meu diagnóstico e início de tratamento, de modo que hoje, meu câncer de mama encontra-se em estágio intermediário. Ignorei a fase inicial, não soube ouvir o meu corpo. Deveria ter voltado ao médico muito antes... enfim.
Feito a biópsia, diagnóstico comprovado: CARCINOMA DUCTAL NÍVEL 3.
Minha mensagem inicial é: MULHERES, OUÇAM SEU CORPO, PRESTEM ATENÇÃO AOS SINAIS E NÃO SE SINTAM CONSTRANGIDAS EM CONTRARIAR SEUS MÉDICOS.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

10/08/2011

Momento de expansão e entusiasmo. Agora sei que todas as dificuldades serão superadas, pois a sorte está ao meu lado. Mas afinal, o que é sorte??? Sorte nada mais é do que a manifestação exterior de minhas próprias atitudes. É chegada a hora de sair do poço e do encantamento das águas profundas... hora de aliviar as emoções e colocar energia solar em minha vida.
Fim de ciclo, definitivamente. Vou abrir espaço para o novo, faxinar meus armários, minhas gavetas e principalmente meus arquivos mentais. Já passou da hora de jogar fora velhos padrões de conduta que a tempos já não me trazem os resultados esperados. Agora quero acessar o meu lado feminino, no mais profundo do meu ser. Colocar minha energia kundalini em prática e me elevar ao mais alto grau de luz que minha necessidade e merecimento possam acessar. Minha energia é libertadora... bye bye entraves emocionais e burocráticos. Preparo-me para um novo amanhã... agora.
Negação, ira, depressão, resignação, temperança, força... RENASCIMENTO. Estou muito consciente de que minha peregrinação está só começando!!!
Um turbilhão de emoções me arrebata a todo instante, tudo junto e misturado. Os sintomas da síndrome do pânico me rondam novamente, mas não vou me render!!! Não posso me render!!! Taquicardia, crises diárias de bronquite, falta de apetite, sono excessivo, unhas que se quebram, cabelos que caem, dificuldade em deglutir... enfim, até minha profissão (que é a minha paixão) me causa repulsa. Não sinto a menor vontade de ir ao trabalho, mesmo ciente de que é meu único sustento. Só sei de uma coisa: vou superar, mesmo que eu não saiba como, afinal, teimoso é quem teima comigo!!!
Preciso cuidar de mim, pois não há quem cuide e isto é fato.
No fundo do meu poço há uma mola propulsora e esta mola me colocou p/ cima. A partir de hoje, comprometo-me comigo mesma a mudar todos os padrões. O primeiro passo já foi dado. Fui à uma consulta médica c/ a minha querida Jajá (Dra. Janete Cuba)... Acupuntura + Florais de Saint Germain. Retorno ao eixo, reconexão c/ Gaia, ampliação de consciência p/ percepção dos sinais cósmicos.

Só tenho uma única certeza: O pior já passou.
É como cantava Tim Maia... “pneu furou, ascende o farol”. Todo recomeço exige acima de tudo muita humildade, sabedoria e auto-conhecimento. Exige também uma seleção mais apurada em relação a tudo o que eu enxergo, ouço e sinto. Meu filho me questiona em relação ao andamento do meu divórcio... natural para uma criança de oito anos que convive num clima de separação conjugal de seus próprios pais. Porém, nada natural ele me dizer que gostaria de ter um padrasto... hora de recolher a espada.
Crianças são sinceras e sabiamente inocentes. Tudo o que eu desejo p/ o resto da minha vida é nunca mais me envolver c/ homem algum!!! Não acredito mais no amor de homem e mulher. Me entristece esta constatação. O que eu queria mesmo era poder estar fazendo planos p/ uma nova paixão... Porém estou tão amarga e endurecida, que um simples casamento de novela me causa repulsa. Estou de luto. Preciso curtir este luto até o fim. Esvaziar tudo.
Confesso que tenho recebido “cantadas”... agora mais do que nunca. Estou consciente que é tudo uma bobagem sem sentido. Os homens tendem a pensar que mulheres divorciadas estão demasiadamente carentes e que portanto tornam-se presas fáceis... tô fora!!!

A verdade é que jamais acreditarei na frase EU TE AMO, vinda de um homem que não sejam meu pai e/ou meu filho.

Apelo agora ao Anjo da Sabedoria, para que me dê coragem e força p/ não desistir de viver na plenitude do meu ser, com todos os meus sentidos devidamente alinhados e aguçados.
Sinto-me numa bifurcação entre razão e emoção. Ainda não descobri qual caminho seguir... onde está a eficácia p/ construção do meu castelo?
O momento é de silenciar. Aflorar a sacerdotisa que existe em mim e com ela concluir minha expansão divina, concretizar meus sonhos até então tolidos ou ainda não sonhados.
ATRAVERSSIAMO!!!
A bela palavra “Atraverssiamo” veio do livro Comer, Rezar e Amar, que muito me inspirou a fazer as tantas transformações em minha vida. Essa expressão italiana significa simplesmente "atravessar a rua", mas de certa forma traz a idéia do que vim fazer neste mundo: ir além... cruzar, aventurar-me.
Seja bem vindo, Hermitão!!! Traga consigo um novo ciclo de pessoas, viagens, profissão e relacionamentos. Que tal plantar uma nova árvore???
Sei que a justiça não é deste mundo... ela é Divina. Assim sendo, tudo se resolverá no mesmo instante em que meu coração estiver verdadeiramente leve como uma pluma. Preciso viver um dia de cada vez, só por hoje e jamais me esquecer que a vida é feita de sonhos e não de ilusões.
 
E que venha o juízo final!!!
 
Temperança... tudo é uma questão de tempo. Cronos, o Senhor do Tempo, se encarregará de tudo... absolutamente tudo!!!
 
EU QUERO!!!
EU POSSO!!!
EU CONSIGO!!!

domingo, 26 de junho de 2011

26/06/2011

Nos últimos tempos, descobri uma porção de coisas...

Descobri em mim uma força que nunca imaginei que pudesse ter;

Descobri um amor incondicional por mim mesma, capaz de superar TUDO;

Descobri uma capacidade de regeneração emocional infinita;

Descobri que nunca mais serei capaz de dar poder a ninguém além de mim;
Descobri que sou MARAVILHOSA e que não preciso de nenhum homem p/ chamar de “meu”;

Descobri que não quero que ninguém me dê satisfações, pois definitivamente não quero ter que dar satisfações a ninguém... jamais;

Descobri que repudio com todas as minhas forças homens frouxos e dependentes, financeira e emocionalmente falando (os duros, mão de vaca, miseráveis, encostados, gigolôs e cafetães então... prefiro não comentar);

Descobri que os mais “bonitinhos” são também os mais “ordinários”;

Descobri também que uma boa “pegada” vale muito mais do que um belo discurso;

Descobri que amor numa cabana é utopia, afinal nem nos contos de fadas isso existe. O príncipe da Cinderela era um PRÍNCIPE de verdade, vivia num castelo, não me recordo de nenhuma cabana;

Descobri que estar junto não é estar misturado;

Descobri que prefiro ser feliz a ter razão;

Descobri que sou fã da eficácia e não da eficiência;

Descobri o maior prazer que uma cama de casal é capaz de me proporcionar: dormir sozinha e me espalhar toda; 

Descobri as delícias de fazer o que quero e quando quero; 

Descobri o prazer de me livrar da coleira eletrônica do telefone celular, que sempre toca no melhor momento da fofoca entre as amigas, quando estou dentro de um provador numa loja de roupas ou quando estou na manicure, fazendo as unhas – que são borradas em virtude da função de atender ao telefone numa hora mega inapropriada, me forçando a voltar à realidade;

Descobri que nunca mais terei de brincar de quem sou eu, onde estou, “Onde está Wally”;

Enfim... descobri tantas outras infinitas coisas sensacionais!!!

E viva la vita... adelante siempre!!!

Porém, o que tiver que vir... que venha. Apenas, nunca mais aceitarei nada e nem ninguém pela metade, afinal, EU SOU o fruto de mim mesma, de minhas expectativas e vivências... Assim sendo, ninguém irá me separar de mim mesma e nem tampouco da minha essência Divina.  

quarta-feira, 22 de junho de 2011

22/06/2011

Cá estou eu as voltas com o meu desejo de redescobrimento e liberdade. Estou em férias profissionais, o que me obriga a uma adaptação ao novo, ao descompromisso com o relógio e com as rotinas cotidianas.  

Paralelamente, muitas mudanças em minha vida, a adaptação ao novo, enfim... tudo junto e misturado!!! Ao longo da minha vida, prendi a ver o lado positivo de tudo e de todos. Assim sendo, resolvi transformar minha vida – tanto a parte tangível quanto a intangível. Redecorar a casa, mudar a cor das paredes, reformular o guarda-roupas e etc.  

Tudo novo... de novo.
Nesta tarde me dei de presente um luxo desmedido... cinema!!! Sim, em plena quarta-feira, lá estava eu numa sessão de cinema às 14:15h, para assistir ao filme Meia-Noite em Paris, acompanhada de muita pipoca e cola-cola. Quanto privilégio, apenas 18 pessoas na sala de cinema e eu dentre elas!!!
Férias... Férias... muito mais do que merecidas!!!

O filme Meia-Noite em Paris é a cara de Woody Allen. Bem humorado e leve, este filme é uma agradável viagem no tempo que nos leva a desmistificar a arte de forma fantasticamente surreal.
Excelente filme. Com sutil profundidade, Meia-Noite em Paris ensina a nós mortais, que temos a tendência de achar que a grama do vizinho é sempre mais verde, tanto o quanto também temos uma irreal ilusão de que as pessoas que possuem  uma vida diferente da nossa – seja lá qual tipo de vida for – são sempre muito melhores e felizes.

Num delicado e divertido passeio pelos grandes pintores e escritores da década de 20, aprendi que a arte mais elevada é aquela que nos ajuda a entender a vida.

domingo, 19 de junho de 2011

19/06/2011

Tenho recebido alguns e-mails, onde as pessoas me questionam em relação ao meu sobrenome... quem sou eu??? Valeria Palma ou Kenchicoski???

Nosso grupo, o GAIA (Grupo de Amigas Interagindo com o Amor), nasceu em 30/04/2008, portanto não conhece Valeria Kenchicoski, apenas Valeria Palma. Sem querer, criei uma confusão...
 
Meu nome de batismo é Valeria Kenchicoski da Silva.

Até o dia 11/09/1999 eu sempre fui Valeria Kenchicoski... porém, a partir de 11/09/1999 (dia do meu casamento), meu nome passou a ser Valeria Kenchicoski da Silva Palma (Valeria Palma).

Ocorre que, doze anos depois, muita coisa mudou, inclusive meu casamento... ele deixou de existir. Estou me divorciando e portanto resgatando a Valeria Kenchicoski. Tarefa complicada esta... eu mesma às vezes ainda me confundo, é tudo muito recente.
 
O caos emocional que acompanha um processo de divórcio, desde o momento da constatação que a relação mudou e o sentimento também, até a divisão dos talheres, separação dos corpos e o fim sacramentado pela assinatura do divórcio (extremamente caro, tanto do ponto de vista financeiro como emocional), costuma ser colossal.

Encaro este processo pelo qual estou passando (não sou a primeira e nem serei a última mulher a passar por isso) como uma busca por minha supremacia moral.

Assim, procuro me adaptar à esta nova realidade. Choro ao meu modo, de forma invisível e sigo em frente. Seja como for, aprendi com as mulheres da minha família - Silva, a engolir as decepções e seguir em frente. Aprendi um modesto talento em mudar de forma, dissolver e depois fluir em torno de todas as necessidades (profissão, filhos, parceiro ou até mesmo da mera realidade cotidiana).

As mulheres da família Silva se adaptam, se ajustam, deslizam e aceitam. São poderosas em sua maleabilidade, quase a ponto de terem um poder sobre-humano. Cresci observando minha mãe que, a cada novo dia, se transformava no que aquele dia lhe impunha. Criava guelras quando precisava de guelras, criava asas quando as guelras ficavam obsoletas, exibia velocidade e paciência épica em outras circunstâncias mais sutis.

Definitivamente, os homens não possuem tais habilidades...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

25/05/2011

Conto de fadas, sinestesia e graça... muita graça. Estes são os principais adjetivos que definem a experiência que vivenciei no dia de hoje. Impossível não transbordar em emoções. Injustiça não tentar registrar em palavras tanto bom gosto, delicadeza e expressão máxima de amor à vida. Sim, eu disse tentar, porque por mais que eu me esforce, jamais conseguirei em palavras definir o que foi presenciar, admirar e sentir... refiro-me à Os Anos Grace Kelly – Princesa de Mônaco, em exposição no MAB/FAAP (Museu de Arte Brasileira/Fundação Armando Alvares Penteado) em São Paulo/SP – de 05 de maio à 11 de junho de 2011.

Grace Patrícia Kelly... “Sua Alteza Sereníssima”, “Neve cobrindo um vulcão”, “Uma dama em cada polegada”, “A garota com alma de aço inoxidável”... acima de tudo havia uma mulher atrás desses qualificativos, uma personalidade memorável e apaixonante. Confesso que ao percorrer as doze salas que completam a exposição, me emocionei, me encantei, refleti e viajei numa ponte cronologicamente paradoxal e simultaneamente atemporal. Fascinante descobrir como Grace conseguiu conjugar elegância e simplicidade ao desenvolver seus papéis de esposa e mãe com a ânsia em sua luta entre acertos e problemas cotidianos. Assim, caminhar por entre Os Anos Grace Kelly – Princesa de Mônaco é transitar por uma vida que se apresenta a nós em fotografias e registros através de filmes domésticos, bem como seu talento e trabalho, suas palavras e energia, suas aspirações, conflitos, dedicação e força interior.

Enfim, trabalhar na capital paulistana tem sido surpreendentemente cultural e revelador. Sempre que possível, procuro presentear minha alma durante meus horários de almoço, não só com a presença de companhias agradáveis – passaporte para um bom “papo”, mas principalmente conhecendo lugares novos, de shoppings à igrejas e museus. E hoje não foi diferente. Planejei um almoço especial, apenas com a presença “ilustre” de mim mesma. Introspecção, reflexão e silêncio somados à gratidão e contemplação... de dentro para fora e vice e versa. Simplesmente magnânimo!!!

A primeira e última vez, até então, que me sensibilizei de forma tão intensa e inesquecível foi a pouco mais de uma década, numa exposição das obras de Salvador Dali, no MASP (Museu de Arte de São Paulo). Dia inesquecível... definitivamente excêntrico, polêmico, contemporâneo, audacioso e surreal.

Neste instante, 23:06h, no aconchego da minha cama, em meio a travesseiros e edredons, tenho a visão sublime, abençoada e mágica do meu filho que dorme ao meu lado. Sinto-me grata... eternamente grata.

domingo, 22 de maio de 2011

22/05/2011

Neste momento a vida é movimento
O sol no firmamento revela o sentimento
Alma acanhada, garganta arranhada.
 
Substância incorpórea é a alma
Ausência de quietude, tranqüilidade e calma
Peito sufocado, ciclo encerrado.

Toda mudança exige temperança
A única esperança é a certeza da bonança
Alma expandida, angústia banida.

Elimino o casulo e pelo mundo perambulo
O que era uma célula, agora é uma libélula
Fim da tempestade, bem vinda liberdade.


ALMA – por Valeria Kenchicoski em 22/05/2011

domingo, 1 de maio de 2011

30/04/2011

Mais um ano pessoal se foi.

Hoje é o dia mais importante da minha vida, pois é o marco de um re-começo. Eis-me aqui, mais uma vez com a possibilidade de reescrever a minha história, afinal um novo capítulo se inicia, a tela do computador está em branco e o cursor ansioso em registrar este trigésimo sexto capítulo.

Diferentemente do ano passado e pela primeira vez em minha vida, passei pelo meu dia de aniversário de forma bem anônima e tranqüila. Propositalmente, desliguei todos os telefones e saí bem cedinho de casa. O dia foi exclusivamente meu. Muita caminhada reflexiva, com um clima super agradável pela manhã, sol de outono em pleno sábado... cenário perfeito!!!

Durante à tarde, muito shopping... hora de EU me presentear!!!

Me sinto forte, regenerada, pronta para combater o bom combate. Afloram em minha mente impressões, sons, imagens, sensações olfativas, visuais, auditivas e táteis que me remetem à infância. Inexoravelmente me transporto às fantasias e fábulas mágicas. Como num passe de mágica estou com cinco anos de idade, sentada no chão vermelho da cozinha de casa. Posso sentir o cheiro da cera que mantém o piso limpo e espelhado. Minha mãe, como de costume, costura em sua máquina “Singer”, cujos pedais foram substituídos por um comando elétrico de última geração para a época – presente do meu pai. Enquanto isso, ouço numa vitrolinha a coleção dos Clássicos da Disney, em disquinhos compactos de vinil coloridos e acompanho tudo com muita atenção sem desviar olhar das ilustrações multi-coloridas, meus primeiros contatos com o maravilhoso e surpreendente universo da literatura. Desde então já tinha um conto favorito.

Mesmo sem saber o motivo, Alice no País das Maravilhas já era meu conto favorito. “É tarde, é tarde, tão tarde a te que arde”... como eu adorava cantar esta música!!! E assim eu a ouvia, várias e várias vezes.

Em minha vida, muitas vezes tento criar todo o tipo de resistência na tentativa de evitar emoções que possam me causar dor. Desta forma, aos poucos, entorpeço meus sentimentos e a vida corre o risco de perder o sentido. O medo do desconhecido é o que sempre me impede de enxergar as melhores oportunidades.

Viver do passado é perder o presente. Sou grata a tudo o que me serviu como aprendizado e crescimento.

Nunca é tarde para sorrir e sonhar. Nunca é tarde para voltar a ser criança. A magia está presente em nossos corações. É chegada a hora de me utilizar de minha perseverança e força interior. Depende apenas de mim o poder de vivenciar meu conto de fadas.

Feliz Aniversário!!!

domingo, 24 de abril de 2011

24/04/2011

DOMINGO DE PÁSCOA.

A Páscoa é a principal festa dos Judeus. Para nós, cristãos, o Domingo de Páscoa é o dia mais importante do ano, onde celebramos a ressurreição do Mestre Jesus, crucificado em prol da liberdade dos homens. As famílias se reúnem, trocam ovos de chocolate e comem tudo aquilo que não puderam comer durante a quaresma. Acaba-se o tempo do silêncio e o jejum de carne vermelha.

Particularmente, desde muito antes de eu nascer, em minha família todos os domingos eram celebrados como uma data cristã, um dia de confraternização e descanso. Benefícios de se ter uma família numerosa!!! O ritual era simples: missa dominical pela manhã e almoço c/ todos reunidos na casa de alguém. Geralmente na minha casa, por conta da minha avó, uma festeira de marca maior. Vinham os tios, primos, visinhos... muita comida, muita música, muita alegria.

Hoje é o meu primeiro Domingo de Páscoa em reclusão. Sim, reclusão por própria opção. Ano difícil, dias difíceis. Optei pelo silêncio, reflexão e prece. Este é o ano que marcará para sempre a decisão mais difícil e dolorida de toda a minha vida: o fim do meu casamento.

Benjamin Disraeli em 1870 escreveu numa carta a Louise, filha da Rainha Vitória, cumprimentando-a pelo noivado: “Não há risco maior que o matrimônio. Mas nada é mais feliz do que um casamento feliz”.

Definitivamente, meu casamento foi infinito enquanto durou. Se deu certo? Sim, deu super certo!!! O fato de ter terminado não é sinônimo de desamor e fracasso. Havia amor e pelo menos da minha parte ainda há. Um amor diferente, maduro, fraterno e eterno. Mas ainda assim, não fomos feitos um para o outro. Meu casamento foi um grande equívoco. Sou eternamente grata por tudo o que vivi ao longo de quase doze anos de vida conjugal, embora tenha sido resgatada de mim mesma e passado todos estes anos num eterno hiato. Há tempos percebi que nada em minha vida era motivo suficiente para manter meu casamento. Nem a maternidade. A verdade é que carrego comigo uma culpa eterna por ter me casado por todos os motivos errados, para então, doze anos depois, acabar com tudo.

No começo eu sempre achei que o simples fato de termos permanecido juntos por doze anos em um relacionamento que, apesar da falta de brilho fora civilizado e cortês, já era alguma coisa. Mantive esta união desestimulante por muito tempo, ciente deste fato, apenas por causa do meu filho. Sei que a recíproca é muito verdadeira, porém, se dependesse “dele”, passaríamos as próximas décadas da mesma forma, até que a morte nos separasse. Esta certeza me apavorou. Me soou como uma sentença de morte. Por fim, tive um estalo e decidi que era chegada a hora de colocar um fim em tudo isso. Comecei a me sentir sufocada (daí a origem psicossomática das constantes crises de bronquite), como se estivesse a morrer pouco a pouco e desperdiçando a vida nesse interim. Minhas intuições e sonhos me dizem que viver é muito mais do que tudo isso.

Até hoje nunca soube como encontrei forças para sentar-me perto do meu marido e perguntar-lhe o que ele pensava a respeito de nossa separação. Só me veio à cabeça lhe dizer a verdade: “Eu amo você, mas estamos com os pés e as mãos atadas. Parecemos dois irmãos e não um casal. Não quero mais viver nesta guerra de nervos, vamos nos odiar, nos trair, perder o respeito e fazer nosso filho sofrer. É isso o que você quer? Não seria melhor sermos honestos, em vez de nos iludirmos?”

Desde este dia já se passaram mais de seis meses – motivo que explica meu silêncio durante tanto tempo neste divã – simplesmente sequei. As palavras me abandonaram. Um luto necessário. Durante este período não atendi mais a nenhum telefonema, desapareci do contato social e familiar, mantendo apenas o contato profissional – por obrigação e instinto de sobrevivência.

Muitos questionamentos vieram à tona e nada voltou a ser como antes. Nos tornamos duas pessoas distantes, pouco a pouco, porém ainda dividindo um mesmo teto. Finalmente concluímos que não era apenas mais uma fase, vivemos num constante “meio” casamento.

Por esta razão, nunca me familiarizei de verdade comigo mesma. Assim, quando um tsunami enorme chamado depressão finalmente me atingiu, por volta dos meus 30 anos de idade - no ano de 2005, não consegui entender e nem articular o que estava acontecendo comigo. O tiro de misericórdia se deu com a morte da minha mãe – no ano de 2008. O meu corpo desmoronou primeiro, depois o casamento e durante um intervalo terrível e assustador, a minha própria mente.

domingo, 10 de abril de 2011

04/04/2011

Fim do longo período de silêncio.

Os infinitos e turbulentos acontecimentos deste último semestre fizeram com que o meu córtex cerebral entrasse em colapso. Colapso de idéias, de racionalização, de entendimento, de sabedoria, de resignação, de aceitação, de equilíbrio, de choques culturais e morais, enfim...

Quem sou eu? Onde estou? Por que e para que estou? Quantos e quais são os papéis que preciso interpretar no decorrer deste imenso espetáculo teatral chamado vida?

Na rotina insana do cotidiano de cada indivíduo, será que alguém sabe o que EU realmente quero, sinto e penso? Será que isso interessa p/ alguém? (além de mim mesma – é claro). A resposta é NÃO.

Cada um no seu quadrado, cada um com seus problemas, afinal, criamos as nossas próprias realidades, através de nossas próprias atitudes e escolhas. MERECIMENTO. Se é assim, pq sofrer tanto com o julgamento alheio? Se ninguém está nem aí p/ o que eu penso e p/ quem eu realmente sou, pq insisto em perder o sono preocupada em cumprir protocolos criados por uma sociedade profundamente machista?

Eu sei a resposta: BERÇO.

No meu caso, herança de uma criação extremamente matriarcal. E com o berço, inevitavelmente percebo a culpa e o sentimento de culpa. Sim... culpa e sentimento de culpa são coisas totalmente diferentes.
 
A culpa é de dentro para fora.

Sentimento de culpa é de fora para dentro.

Estamos onde estamos, interagindo com uma diversidade de pessoas que são frutos de nossas escolhas pessoais – mesmo que inconscientemente. Seja no trabalho ou em casa, os semelhantes se atraem, energeticamente, da mesma forma que também se repudiam com a mesma intensidade.

Outro dia assisti à um filme no cinema, uma comédia romântica bem interessante. Ocorre que, ao terminar a sessão de cinema, voltei p/ casa contrariada e o motivo é bem simples: Vi parte de mim numa grande tela de cinema, como se estivesse diante de meu próprio reflexo em um espelho gigante... hummm, olhar p/ si é pesado. É auto-conhecimento. É desarrumar p/ arrumar. Me deparei c/ minhas virtudes e defeitos, meus erros e acertos, meus medos e anseios... o bacana é que ao final, percebi como cada um deles interfere direta e/ou indiretamente em meu dia a dia.
 
Difícil mesmo é a hipocrisia humana. Criaturas que não tem a menor noção do significado da palavra AMOR. Hoje qualquer um diz EU TE AMO, sem mais nem menos. Esquecem que os olhos são a porta da alma e que o corpo fala. Ascendem uma vela p/ Deus e outra p/ o Diabo, simultaneamente. São seres perdidos, com uma noção diferenciada de seu próprio SER.

Continuo a espera de encontrar pessoas cujo foco esteja em SER, mas, infelizmente, a grande maioria das pessoas canalizam todas as suas energias em TER, TER, TER.

E eu???

Procuro fazer o diz a canção: “Ei dor, eu não te escuto mais, vc não me leva à nada. Ei medo, eu não te escuto mais, vc não me leva a nada. E se quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou.”