"Sou uma mulher madura, que as vezes brinca de balanço.
Sou uma criança insegura, que as vezes anda de salto alto."
(Martha Medeiros)

Este Blog tem por objetivo catalogar minha caminhada nesta jornada diária na busca incessante pelo auto-conhecimento e compreensão das coisas com a ampliação de consciência. Esta tarefa faz parte do meu exercício de auto-disciplina e comprometimento comigo mesma.


Sigo meu caminho, um dia de cada vez, colocando cada coisa em seu lugar, re-organizando aos poucos toda a minha existência. Mas... de que forma??? Condição sine-qua-non ou regra de ouro: Nunca fazer ao outro aquilo que não gostaria que o outro me fizesse. Deixar a ansiedade e o orgulho de lado, controlar o ego e exercitar o perdão.

Simples, mágico e divertido... com certeza!!!

Por fim, decidi fazer um diário emocional onde irei registrar minhas impressões sempre que algo relevante chacoalhar minha estrutura sinestésica feminina, cujo título não podeia ser outro, senão O DIVÃ DE VALERIA KENCHICOSKI.

Valeria Kenchicoski - março/2010.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

12/12/2012


RADIOTERAPIA – SESSÃO 30/30: ACABOU.
“Uma mulher é como um saquinho de chá, você nunca saberá o quão forte ele é até que esteja na água quente.” (Eleanor Roosevelt).
Hoje é um daqueles dias bons para refletir sobre a vida, para avaliar o quanto as coisas estão verdadeiramente como desejamos. Ainda dá tempo de resolver, de mudar o que for preciso. É importante virar mesmo a página, encerrar aqueles ciclos que já deviam ter ficado pra trás. É importante abrir espaço para que o novo possa chegar.
12/12/12. Talvez seja o caso de agir realmente como se o mundo fosse acabar: resolver as pendências e abrir o coração. Não empurrar problemas com a barriga. Falar o quanto alguém é especial. Curtir o que é importante. Descartar o que não serve mais. Seguir em frente. Ser generoso. Resolver a vida para viver cada vez melhor.
Mais uma etapa se cumpriu, graças à Deus. Como todos sabem, criei um perfil no Facebook com a finalidade de divulgar meu tratamento contra um câncer de mama na íntegra, sem sensacionalismo, porém com a visão do paciente em cada etapa de um tratamento oncológico.
A partir de então, este blog também passou a ser uma ferramenta de divulgação. Procurei conduzir tudo com leveza e alegria, transmitindo esperança, força e principalmente o acalanto e a certeza de que câncer não é mais uma sentença de morte, mesmo sem saber como.
Neste período pessoas se foram, abrindo espaço para novas pessoas que chegaram. Com resiliência eu sorri, chorei, sofri, brinquei, aprendi, amei, me apaixonei e, consequentemente, me reconstrui.
A radioterapia é um processo árduo e que não pode ser mensurado e nem tampouco comparado ao processo de quimioterapia, por exemplo. Na verdade, os tratamentos oncológicos são uma “caixa de pandora”, cada um com suas infinitas complexidades. Cada caso é um caso, cada diagnóstico é um diagnóstico, cada DNA é um DNA. Portanto, cada tratamento é um tratamento, bem como cada resultado é um resultado.
As oito sessões de quimioterapia foram longas, uma a cada 21 dias. Os efeitos colaterais, todos já relatados aqui, ipsis litters. Ainda assim, havia um período de descanso e regeneração.
Já na radioterapia não houve trégua. Foram 30 sessões, uma por dia, com descanso apenas aos finais de semana. O horário da minha aplicação era 6:30h (praticamente madrugada). Fizesse sol, chuva, tsunami, terremoto, enfim, eu estava lá.
Paralelamente, toda semana havia consulta de avaliação com a médica radioterapeuta – Dra. Osanna Esther Barbosa – um amor de pessoa.
“A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da área irradiada.

As radiações ionizantes são eletromagnéticas ou corpusculares e carregam energia. Ao interagirem com os tecidos, dão origem a elétrons rápidos que ionizam o meio e criam efeitos químicos como a hidrólise da água e a ruptura das cadeias de ADN. A morte celular pode ocorrer então por variados mecanismos, desde a inativação de sistemas vitais para a célula até sua incapacidade de reprodução.

A resposta dos tecidos às radiações depende de diversos fatores, tais como a sensibilidade do tumor à radiação, sua localização e oxigenação, assim como a qualidade e a quantidade da radiação e o tempo total em que ela é administrada.

Para que o efeito biológico atinja maior número de células neoplásicas e a tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação a ser administrada é habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se usa a terapia externa.”(Fonte: INCA – Instituto Nacional do Câncer).
Dos efeitos colaterais:
1) Sono, muito sono. Em resumo é o cérebro “desligando” o corpo, obrigando-o ao repouso e, consequentemente, ao armazenamento das energias vitais p/ que a radiação possa cumprir sua missão.
 
2) Imuno-depressão. Eis me aqui, com a pele ressecada e as unhas enfraquecidas e quebradiças, mais uma vez.
 
3) Queimadura da pele, popularmente falando. A região tratada se torna quente e avermelhada. Sintoma similar ao de um bronzeamento excessivo, diário, sob o sol do meio dia e sem protetor solar, potencializado por 30 dias consecutivos.
Em Santos faz muito calor nesta primavera, média de 35 graus. Eu com ansiedade, irritabilidade, impaciência, tudo junto e misturado.
Na verdade, fiquei com a pele muito queimada do lado esquerdo do corpo (costas, pescoço, colo, seio e axila esquerda). Nenhuma novidade. Efeito colateral da radioterapia. Já sabia disso, mas não pensei que fosse tão difícil e que mexesse tanto comigo física e emocionalmente.
Nesta mesma data, no ano passado, eu estava careca e totalmente debilitada por conta da quimioterapia. Hoje estou com a pele em carne viva. Cada vez que tomo banho, a água escorre pelo meu seio esquerdo e retira mais um pouquinho de pele. O clima prejudica bastante. Em casa fico sem roupa e sair na rua é um verdadeiro tormento.

A vida segue. Tudo passa e isso também vai passar. Apenas estou cansada, muito cansada. Estou exausta. Exausta de ser forte, de fazer de conta que está tudo bem, enfim. Só agora, ao escrever estas palavras é que estou me permitindo chorar. Choro bom, de desabafo, mais uma etapa vencida.
Sei que o pior já passou, que sou privilegiada por ter acesso à um tratamento digno e de última geração. Mas, há momentos em que é bem difícil encarar o espelho. Será que sou fútil? Preocupar-me com estética a esta altura do campeonato? Sou mulher, apenas mulher. Portanto, vaidosa, claro!!!
Enfim e apesar de tudo, o sentimento agora não poderia ser outro, senão o de GRATIDÃO, AMOR, RESIGNAÇÃO e ALEGRIA.
Definitivamente passei a reconhecer a transitoriedade das ondas, a relatividade do tempo e a nulidade da vida que passa sem marcar estações... apenas passa.

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