O ESTRANHO
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Podemos? - perguntou ele.
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Será que podemos mesmo?
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Ainda não sabemos, talvez depois de nos conhecermos.
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Nos conhecermos. Queremos?
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Querer é Poder. Eu posso e você?
Uma
fração de segundo se transforma em eternidade, a troca de olhar entre eles é
intensa. Como um leitor de código de barras, os cinco sentidos entram em sintonia
fina, ativados pelo feromônio latente que acelera o pulsar. As pupilas se
dilatam e a síndrome das pernas inquietas se apresenta.
Impetuosa
e cosmopolita, Cecília decide continuar. Se lança e toma a iniciativa sem
pudores, sem se preocupar com o amanhã, tampouco sem querer saber se haverá
amanhã. Rouba-lhe um beijo. Abre caminho para o depois, trêmula.
Ele
era perturbador. Um verdadeiro estranho, no sentido literal da palavra. Surreal,
irracional, sem explicação, sem controle. Sua inteligência é afrodisíaca e
visceral. Cecília se entrega. Atravessar fronteiras e exercitar sua liberdade
sempre foi o seu maior desejo, desde a mais tenra infância.
Cecília
pode enfim ler nos olhos, nos lábios e nas mãos daquele estranho o real
significado da palavra “intimidade” e, embora não tenha certeza de nada, segue
seu caminho adaptando-se aos contos de fadas daqui e dali, brincando de ser
perfeita, durante o tempo em que lhe interessar.
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